Na última sexta-feira, a agência Standard & Poor’s elevou o rating da dívida da República Portuguesa para A+, com uma perspetiva estável. Esta decisão foi celebrada pelo Ministro das Finanças, Fernando Medina, que a considerou um reconhecimento da recuperação económica do país. Mas será que esta celebração é justificada? A resposta é sim, e reflete uma mudança significativa na forma como o poder político português vê as classificações de rating.
Desde 2006, a evolução do rating de Portugal tem sido um reflexo não só da saúde financeira do país, mas também da transformação do discurso político. Durante os anos de crise, quando as agências de rating rebaixavam a notação da dívida soberana, os líderes criticavam a legitimidade e o poder dessas entidades. Em 2010, a Moody’s retirou o estatuto de investimento de topo a Portugal, e em 2011, o rating caiu para “lixo financeiro”. Este cenário teve consequências diretas, como o aumento dos juros e a necessidade de um resgate internacional.
Na altura, figuras como José Sócrates e Pedro Passos Coelho denunciavam as agências de rating como responsáveis pela amplificação da crise, afirmando que Portugal era vítima de um “poder quase político” que afetava a sua capacidade de financiamento. A retórica era de desconfiança, e muitos políticos afirmavam que “os mercados não mandam em Portugal”.
Com a saída do programa de ajustamento e a recuperação da credibilidade externa, o discurso começou a mudar. Desde 2015, António Costa tem destacado cada melhoria no rating como um sinal de reconhecimento internacional das políticas do governo. A recente subida para A+ é agora vista como um “selo de qualidade”, essencial para atrair investimento estrangeiro.
A relação entre o rating de Portugal e o investimento é clara. Um rating elevado significa menores juros exigidos pelos investidores, o que é crucial para a economia, especialmente para o setor imobiliário. Este setor, que depende fortemente de financiamento de longo prazo, é diretamente afetado pelas condições do mercado financeiro. Um rebaixamento do rating pode encarecer o crédito e limitar o acesso a financiamento, reduzindo a atratividade de novos projetos.
Para investidores institucionais e fundos imobiliários, um rating elevado é sinónimo de estabilidade. Portugal continua a atrair capital externo, mesmo com rendibilidades moderadas. A recuperação do rating reforça a atratividade de grandes projetos, desde reabilitação urbana a novos empreendimentos em áreas como turismo e logística.
Os números do investimento direto estrangeiro corroboram esta tendência. Apesar de alguma volatilidade, o stock acumulado de IDE representa 69% do PIB, quase o dobro do que se registava em 2008. Esta evolução demonstra que Portugal se consolidou como um destino credível para investimento, sustentado por um rating em ascensão.
Em suma, a trajetória do rating de Portugal desde 2006 é também a história de uma mudança no discurso político. De um símbolo de ingerência externa, passou a ser visto como um ativo estratégico. Esta mudança não é apenas semântica; reflete a compreensão de que, num país dependente de capital externo, a credibilidade junto dos mercados é crucial. Contudo, a experiência das últimas duas décadas sugere que a credibilidade das agências de rating pode ser superior à dos políticos que as criticaram. O rating de Portugal, independentemente das opiniões, impõe-se como uma referência global de confiança.
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Fonte: ECO




