Os juros soberanos de longo prazo em França e no Reino Unido atingiram níveis alarmantes, semelhantes aos registados durante a crise de 2011. Esta situação reflete as preocupações com a sustentabilidade das contas públicas na Europa, sendo a instabilidade política em França o fator desencadeador imediato. No Reino Unido, a yield a 30 anos subiu para 5,74%, o valor mais elevado desde 1998.
João Moreira Rato, economista e ex-presidente do IGCP, alerta que tanto França como Reino Unido enfrentam défices públicos elevados e questões sérias relacionadas com a sustentabilidade das suas finanças. “Os défices são elevados e não se vislumbram soluções politicamente viáveis para os resolver. Estes são problemas de fundo”, afirma.
Em França, o défice das administrações públicas, que inclui o Estado, a segurança social e as administrações locais, foi de 5,8% do PIB no ano passado. Embora se estime uma ligeira redução de 0,2 pontos percentuais para este ano, espera-se que o défice volte a crescer para 5,7% no próximo. Todos estes valores estão acima do limite de 3% imposto pela Comissão Europeia.
O Fundo Monetário Internacional recomenda um ajuste orçamental de 1,1% do PIB até 2026 e cerca de 0,9% da riqueza gerada nos anos seguintes para controlar o défice no médio prazo. No Reino Unido, a situação não é muito diferente, com um défice de 4,8% do PIB no último ano fiscal, que deverá cair para 3,0% este ano e 2,7% no próximo.
Moreira Rato sublinha que as taxas de juros de longo prazo têm estado sob pressão em ambos os países. Em França, as taxas não estão mais elevadas do que quando o governo Barnier caiu. No Reino Unido, as taxas têm estado elevadas desde a queda de Liz Truss. O economista cita Kenneth Rogoff, especialista em dívida pública, que alerta que “as crises demoram muito tempo a ocorrer, mas quando acontecem, tudo acontece rapidamente”.
A França, apesar dos seus défices externos, possui uma dívida externa relativamente baixa e pode gerir a sua dívida com investidores domésticos. O Reino Unido, por sua vez, tem um banco central que pode intervir em caso de crise. Durante o governo de Liz Truss, o banco central sinalizou que não pretendia prolongar a sua intervenção para não apoiar políticas orçamentais irresponsáveis.
Moreira Rato conclui que, embora não pareça que os dois países estejam à beira de solicitar ajuda externa, pois dispõem de instrumentos para lidar com a situação a curto prazo, os problemas de fundo que enfrentam podem ter consequências económicas negativas a longo prazo. “Ambos os países não estão a seguir caminhos sustentáveis em termos de finanças públicas”, alerta o economista.
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Fonte: Sapo





