O Banco Central Europeu (BCE) decidiu, como era esperado, manter as taxas de juro inalteradas na sua reunião mais recente. Esta decisão surge num contexto em que a inflação se aproxima da meta de 2%, conforme indicado no comunicado emitido a partir de Frankfurt.
A reunião do BCE ocorre num momento crítico para a segunda maior economia da zona euro, que enfrenta instabilidade política e uma perspectiva económica frágil. A dívida pública está a aumentar e o défice fiscal apresenta-se fora de controlo. Além disso, as tarifas implementadas por Donald Trump já estão a ter um impacto significativo na economia da zona euro e em Bruxelas.
A maioria dos economistas consultados pela Reuters previa que o BCE manteria as taxas de juro inalteradas pela segunda vez consecutiva. Nos últimos 12 meses, o BCE já tinha reduzido a taxa de depósitos em 200 pontos base, e cerca de 60% dos inquiridos acreditam que essa tendência se manterá até ao final do ano. A expectativa é que a taxa permaneça nos 2% ou superior até 2026.
As previsões para a zona euro apontam para um crescimento de 1,2% este ano e 1,1% no próximo, podendo atingir 1,4% em 2027. No entanto, a maior economia da Europa, a Alemanha, contraiu 0,3% no segundo trimestre, em grande parte devido aos efeitos das tarifas impostas por Trump.
Luke Bartholomew, da Aberdeen Investments, sublinha que o BCE deverá continuar a manter as taxas inalteradas, enquanto os investidores aguardam sinais sobre a futura política monetária, especialmente em relação à situação política em França. O analista alerta para o risco de uma venda massiva de obrigações francesas devido à incerteza política, o que poderia agravar as condições financeiras na zona euro e levar a mais cortes nas taxas de juro. Contudo, uma intervenção direta do BCE para apoiar a dívida francesa é considerada improvável, dado o desejo da instituição de evitar envolvimentos políticos.
Por outro lado, Mauro Valle, da Generali Investments, destaca que, se França não conseguir aprovar um Orçamento do Estado para 2026, a pressão sobre o presidente Macron para se demitir poderá aumentar, potencialmente desencadeando uma crise constitucional que afetaria a volatilidade das obrigações.
Os spreads da dívida francesa estão a manter-se em 80 pontos base, mas um eventual corte no rating, aliado a uma maior incerteza política, poderá fazer com que subam para 100 pontos base, superando os spreads italianos.
Michael Krautzberger, da Allianz GI, acredita que, com a inflação a rondar o objetivo e o crescimento próximo da tendência, o BCE deverá reafirmar que a sua postura monetária é “adequada”. No entanto, ele também reconhece a possibilidade de resistência interna, como já se refletiu nas atas de julho.
A Ebury também prevê que o BCE mantenha as taxas de juro inalteradas, apontando que o crescimento da zona euro é mais robusto do que o esperado e que a inflação deverá manter-se em torno dos 2%. As previsões de crescimento e inflação poderão, assim, ser revistas em alta.
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Fonte: Sapo