Israel reagiu de forma contundente à recente aprovação na Assembleia Geral da ONU de uma declaração que reforça a solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, Oren Marmorstein, descreveu a decisão como “vergonhosa” e um claro incentivo ao grupo islamita Hamas.
A declaração, conhecida como “Declaração de Nova Iorque”, foi aprovada com 142 votos a favor, incluindo o apoio de Portugal, e 10 votos contra, com a oposição de países como os Estados Unidos e a Hungria. Doze estados optaram por se abster. Marmorstein criticou a ONU, afirmando que a organização se transformou num “circo político alheio à realidade”.
O texto da declaração, elaborado por França e Arábia Saudita, visa promover uma solução de dois Estados, com Israel e Palestina coexistindo pacificamente, e exclui o Hamas do processo. Marmorstein sublinhou que a declaração não menciona a responsabilidade do Hamas pela continuidade do conflito, especialmente pela recusa em devolver reféns e desarmar-se. Para Israel, esta omissão é um sinal de que a declaração não contribui para uma paz duradoura, mas sim encoraja a violência.
A declaração, que já havia sido aprovada em julho, defende ações concretas para alcançar um Estado palestiniano “independente, soberano, economicamente viável e democrático”. Israel tem criticado a ONU por não condenar firmemente os ataques do Hamas, que desencadearam a atual guerra na Faixa de Gaza. A declaração menciona os ataques de 7 de outubro, que resultaram em 1.200 mortes e 251 reféns em Israel, e exige a libertação de todos os reféns, estimados em 48.
A proposta inclui ainda a necessidade do Hamas cessar a sua autoridade sobre a Faixa de Gaza e entregar as armas à Autoridade Palestiniana, com apoio internacional. A presidência francesa indicou que esta declaração servirá como base para uma reunião em Nova Iorque, onde o Presidente Emmanuel Macron prometeu reconhecer o Estado Palestiniano.
Portugal, juntamente com outros países como Canadá e Austrália, está a considerar o reconhecimento do Estado Palestiniano, enquanto o Reino Unido condiciona a sua decisão a ações de Israel que visem o fim do conflito. O texto da ONU também sugere o envio de uma “missão internacional temporária de estabilização” para proteger a população e apoiar a capacitação do Estado palestiniano.
Atualmente, cerca de três quartos dos 193 Estados-membros da ONU já reconhecem o Estado Palestiniano, proclamado em 1988. Contudo, com a escalada do conflito e a expansão dos colonatos judaicos na Cisjordânia, as preocupações sobre a viabilidade da criação de um Estado Palestiniano aumentam. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reiterou que “não haverá Estado palestiniano”, afirmando que os territórios em questão pertencem a Israel.
O conflito na Faixa de Gaza já causou mais de 64 mil mortes, a maioria civis, e gerou uma crise humanitária sem precedentes. A ONU declarou a região da Cidade de Gaza em situação de fome, enquanto Israel prossegue com um plano militar que visa ocupar a capital do território e desarmar o Hamas, antes de transferir a gestão do enclave a uma administração civil favorável a Telavive.
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dois Estados dois Estados dois Estados Nota: análise relacionada com dois Estados.
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Fonte: Sapo