O setor segurador enfrenta um paradoxo interessante: nunca houve tanto acesso a dados, mas a transformação desses dados em valor real e acionável para os clientes continua a ser um desafio. Embora os modelos atuariais utilizem grandes volumes de dados históricos para prever riscos, os dados gerados no dia a dia permanecem muitas vezes isolados, sem serem utilizados na sua forma mais valiosa, que é a capacidade de informar decisões em tempo real.
As seguradoras têm dominado a análise retrospetiva, mas muitas ainda lutam para ativar os dados que possuem. A verdadeira diferença entre ter dados e saber usá-los é crucial neste contexto. O problema não reside apenas na tecnologia disponível, mas sim num modelo de gestão de dados que se tornou obsoleto. As empresas ainda organizam os seus processos em torno das apólices, em vez de se focarem nas necessidades dos clientes.
Atualmente, ainda se vendem documentos repletos de cláusulas, quando o que deveria ser oferecido são experiências personalizadas que se ajustem ao risco, ao momento e à realidade financeira de cada cliente, seja uma pessoa ou uma empresa. Para resolver esta questão, é fundamental que os dados estejam em movimento, que sejam utilizados eventos em tempo real e que se adotem arquiteturas modernas, como as plataformas MACH (microserviços, APIs, cloud-native e headless), que já são uma realidade em outros setores.
O potencial inexplorado no setor segurador é imenso. Poderíamos, por exemplo, conectar sensores em edifícios para ajustar automaticamente os prémios do ramo multirriscos, utilizar dados de condução em tempo real para prevenir acidentes e personalizar seguros automóveis, ou até criar ecossistemas inteligentes para gerir sinistros com reparações sob medida. Contudo, o setor enfrenta um desafio significativo: cerca de 80% dos dados das seguradoras são não estruturados, como e-mails, PDFs, gravações e imagens, e a maioria das empresas não consegue extrair valor desses dados.
Os principais obstáculos incluem dados desatualizados, processos manuais propensos a erros, falta de governança sobre a qualidade dos dados, sistemas fragmentados que dificultam uma visão única do cliente e a dificuldade em implementar inteligência artificial de forma eficaz. O resultado é a ocorrência de perdas operacionais, decisões erradas, desperdício de recursos e, por fim, a insatisfação dos clientes.
Para que a mudança ocorra, é necessário que os dados sejam estruturados, fluidos e atualizados em tempo real, com a granularidade e o contexto adequados. Precisamos de modelos operacionais que agreguem e ativem dados instantaneamente, cruzando fontes internas e externas, automatizando decisões personalizadas e integrando a inteligência artificial de forma transparente. O foco deve estar no cliente, e não na apólice.
O futuro do setor segurador não será apenas um contrato, mas sim um serviço contínuo de proteção adaptativa, invisível e inteligente. As empresas que conseguirem sobreviver serão aquelas que perceberem que os dados não servem apenas para relatórios, mas para ações imediatas. A escolha é clara: ou reinventamos a nossa estrutura tecnológica e cultural ou seremos ultrapassados por concorrentes mais ágeis e clientes cada vez mais exigentes. Os dados no setor segurador precisam deixar de ser um arquivo morto e transformar-se no motor das decisões em tempo real.
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Fonte: ECO