Nos últimos anos, a confiança nas auditoras tem sido abalada por vários casos polémicos, tanto a nível internacional como em Portugal. A recuperação dessa confiança é um processo em curso, conforme destaca Panos Prodromides, presidente do Committee of European Auditing Oversight Bodies (CEAOB), numa entrevista ao EContas. As inspeções realizadas na Europa continuam a revelar deficiências, o que evidencia que ainda há trabalho a fazer para alcançar o nível de confiança nas auditoras esperado pelos stakeholders.
Prodromides participou recentemente numa conferência do International Ethics Standards Board for Accountants (IESBA) em Lisboa, onde sublinhou que a reconstrução da confiança exige não apenas melhorias na qualidade da auditoria, mas também uma maior transparência sobre o papel dos auditores. Ele apresentou uma proposta a Bruxelas para reforçar os poderes do CEAOB, permitindo que o organismo se torne o supervisor único das auditoras.
A indústria de auditoria na Europa enfrenta uma encruzilhada. Por um lado, há um progresso significativo, com empresas a investirem em tecnologia e a melhorarem a transparência. Por outro lado, os resultados das inspeções mostram que as deficiências ainda persistem. Em Portugal, a situação é semelhante, com um elevado grau de concentração na auditoria de entidades de interesse público. A supervisão da auditoria relacionada com a sustentabilidade é uma tarefa importante que o país também enfrenta.
A implementação da inteligência artificial (IA) nas auditorias é outro desafio. Embora a tecnologia possa melhorar a qualidade do trabalho, também levanta questões sobre governança e formação. Prodromides alerta que é essencial usar estas ferramentas com ceticismo profissional e garantir que os auditores sejam devidamente treinados para as utilizar. Sem uma supervisão adequada, os resultados podem ser comprometidos.
A necessidade de investir em tecnologia poderá levar a uma maior consolidação no mercado de auditoria. As empresas que não adotarem estas ferramentas correm o risco de se tornarem menos competitivas, o que pode resultar em custos mais elevados para os clientes. A eficiência proporcionada pela tecnologia é crucial para a realização de auditorias mais rápidas e eficazes.
Outro ponto de preocupação é o aumento dos investimentos de fundos de private equity nas empresas de auditoria. Embora esses investimentos possam trazer o capital necessário para a transformação digital, também levantam questões sobre a independência e a qualidade da auditoria. A busca pelo lucro não pode comprometer a qualidade do trabalho realizado.
O CEAOB enfrenta muitos desafios, incluindo a necessidade de atrair novos talentos para a profissão. A percepção de que a auditoria é uma carreira monótona pode afastar os jovens. No entanto, a introdução de tecnologias como a IA pode tornar a profissão mais atrativa, permitindo que os auditores se concentrem na análise e na identificação de riscos, em vez de apenas na verificação de dados.
A confiança nas auditoras não foi totalmente recuperada. Apesar de existirem auditorias de alta qualidade, as falhas são as que ganham destaque na imprensa. Para reconstruir essa confiança, é necessário melhorar continuamente a qualidade da auditoria e aumentar a transparência sobre o que os auditores fazem. Além disso, as empresas devem promover uma cultura de integridade e responsabilização.
A desregulação pode representar um risco significativo para a confiança no setor. Se as empresas de auditoria não investirem adequadamente em controles internos e na gestão de riscos, a qualidade do trabalho pode ser comprometida. A ética e a formação contínua são essenciais para garantir que a confiança nas auditoras seja mantida.
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Fonte: ECO