António Vitorino, ex-diretor-Geral da Organização Internacional para as Migrações (OIM), foi convidado pelo Jornal Económico para discutir a situação da imigração em Portugal. Vitorino sublinha a necessidade de reganhar a confiança da sociedade na gestão da imigração, afirmando que a falta dessa confiança compromete a aceitação de imigrantes.
“Vamos continuar a precisar de imigrantes. As pessoas têm de confiar que o sistema de gestão da imigração funciona. Infelizmente, isso não é o que está a acontecer atualmente. Reganhar a confiança da sociedade sobre a gestão dos fluxos migratórios é essencial para que a imigração seja regular, ordeira e segura”, afirmou o advogado português.
Vitorino, que também preside ao Conselho Nacional para as Migrações e Asilo, abordou os desafios demográficos que a Europa enfrenta, como o envelhecimento da população e a escassez de mão-de-obra em vários setores. “É inegável que existe um problema estrutural na Europa. A solução para preencher essas carências passa pela imigração regular e segura”, defendeu.
O ex-diretor da OIM alertou para a dificuldade em prever o futuro do mercado de trabalho. “É preciso ter cuidado com as projeções. Não sabemos como será o mercado laboral nos próximos cinco anos. Contudo, é evidente que ainda há espaço para crescimento do mercado de trabalho autóctone, especialmente com a maior participação das mulheres”, explicou.
António Vitorino também mencionou dados do Banco Mundial, que indicam que, nos próximos dez anos, 1.200 milhões de pessoas nas economias emergentes alcançarão a idade de trabalho. “Na melhor das hipóteses, essas economias criarão 420 milhões de postos de trabalho, resultando num défice de 800 milhões”, acrescentou.
Além disso, um inquérito recente do Fórum Económico Mundial revelou que 71% dos empresários portugueses planeiam investir em upskilling e reskilling nos próximos cinco anos. “Em setores como a agricultura, pesca, hotelaria e construção civil, a presença de imigrantes é significativa, o que demonstra a importância da gestão da imigração”, afirmou Vitorino.
O advogado destacou que a aceitação da imigração pela sociedade depende do volume de admissões e da capacidade de integração. “Em Portugal, o crescimento súbito dos fluxos migratórios, especialmente de países que não eram tradicionais, tem gerado uma perceção de mudança na paisagem social. Embora 70% dos imigrantes venham de países de língua portuguesa, a imigração do Hindustão, que é mais recente, é muito visível”, concluiu.
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Fonte: Sapo