Na recente cerimónia de tomada de posse do novo Presidente da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), foram destacados os desafios que o setor segurador enfrenta, nomeadamente a necessidade de uma supervisão estratégica e independente. A governança deve ir além da mera análise de matrizes de risco, integrando a avaliação do binómio risco-impacto como um fator essencial para a estabilidade financeira do setor.
O Relatório de Riscos de Outono 2025, publicado pelas Autoridades Europeias de Supervisão (ESAs), revela a crescente complexidade dos riscos no sistema financeiro europeu. Tensões geopolíticas, instabilidade nos mercados de energia e alterações nas cadeias de comércio global são fatores que podem impactar a estabilidade financeira. Este relatório alerta supervisores e instituições financeiras para a necessidade de integrar esses riscos na gestão diária.
Embora o sistema financeiro europeu tenha demonstrado robustez, a vigilância contínua e medidas preventivas são cruciais, tanto para o setor segurador como para os fundos de pensões. No setor segurador, os dados até final de 2024 indicam uma recuperação consistente, com os prémios de Vida a crescerem e o negócio unit-linked a inverter a queda dos últimos anos. Este crescimento é acompanhado por melhorias nos fluxos de caixa e rentabilidade, impulsionadas por retornos de investimento positivos.
A estabilização das taxas de juro sugere que as taxas de resgate podem ter atingido o pico, o que contribui para a solidez financeira das carteiras. O exercício de esforço de 2024, focado nas tensões geopolíticas, confirmou que a capitalização adequada no âmbito do regime de Solvência II permite que o setor absorva impactos externos. Este exemplo ilustra como os modelos de risco e os quadros regulatórios estruturados ajudam a antecipar riscos e a proteger os consumidores.
Os fundos de pensões ocupacionais também mostraram resiliência, com ativos a crescerem acima das responsabilidades, impulsionados pela valorização de ações e obrigações. No entanto, a transição de regimes de benefício definido para contribuição definida apresenta desafios operacionais, especialmente para segmentos mais vulneráveis da população, como as mulheres. A monitorização contínua da liquidez e a realização de testes de esforço são essenciais para identificar riscos antes que se tornem problemáticos.
O setor financeiro europeu enfrenta ainda desafios estruturais que exigem respostas estratégicas. A resiliência do setor segurador dependerá da capacidade de ajustar a oferta de produtos e serviços a cenários económicos e geopolíticos em constante mudança. A inovação em produtos, como soluções unit-linked e seguros de Vida sustentáveis, poderá equilibrar o risco suportado pelas seguradoras com a proteção do consumidor.
Em Portugal, os dados indicam que existem 239 fundos ocupacionais supervisionados pela ASF, com cerca de 506 mil participantes e um volume de ativos acumulados de 19,3 mil milhões de euros. Apesar da baixa taxa de participação em comparação com a média europeia, a tendência de migração para esquemas de contribuição definida e a consolidação de fundos menores são notáveis.
Em suma, a análise revela que, embora o setor segurador e os fundos de pensões sejam resilientes, continuam a ser vulneráveis. É fundamental reforçar os modelos de governança e supervisão de riscos, integrando de forma sistemática os riscos geopolíticos e macroeconómicos. O setor deve também assumir um papel ativo na proteção do consumidor e na promoção de soluções de poupança de longo prazo, contribuindo assim para a estabilidade do sistema financeiro europeu. Leia também: A importância da inovação no setor financeiro.
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Fonte: ECO