As listas negras, um símbolo de regimes autocráticos, estão de volta a Portugal, despertando preocupações sobre a saúde da nossa democracia. Este fenómeno, que remete para os tempos sombrios das purgas estalinistas e do macartismo nos Estados Unidos, faz ecoar a expressão “inimigos do povo”, utilizada por Jean-Paul Marat durante a Revolução Francesa. A ironia não é perdida: Marat, que denunciava os seus opositores, acabou por ser imortalizado na sua morte, uma lição que a história parece ter esquecido.
Na Alemanha Nazi, as listas eram utilizadas para perseguir judeus e opositores políticos. Durante a Segunda Guerra Mundial, um documento conhecido como o “Black Book” continha os nomes de cidadãos britânicos a serem capturados em caso de invasão. Hoje, assistimos a uma repetição desse padrão, com a administração Trump a elaborar listas de pessoas a quem são negados vistos por motivos políticos. Em Portugal, a situação é alarmante, com nomes de crianças e indivíduos listados por figuras políticas, como a deputada Rita Matias, levantando questões sobre a liberdade e os direitos civis.
A cumplicidade com estas práticas é preocupante. A ideia de que estas listas são apenas simbólicas e não se comparam com o passado é perigosa. O uso de listas negras indica uma deriva autocrática que não deve ser ignorada. O que fazer, então, diante desta ameaça? Com a aproximação das eleições autárquicas e presidenciais, a resposta não pode ser apenas a afirmação identitária de cada partido. É essencial considerar o frentismo como uma estratégia política eficaz.
O frentismo, que implica a união de forças políticas contra um inimigo comum, é crucial para enfrentar a ameaça autocrática. A história ensina que, em momentos de crise, a divisão entre adversários e inimigos deve ser clara. Um adversário procura convencer, enquanto um inimigo visa eliminar. A fragmentação política, como a que se observou na Alemanha dos anos 30 entre social-democratas e comunistas, levou a consequências devastadoras. A história não deve ser repetida.
É fundamental que os partidos políticos reconheçam a necessidade de uma frente unida. A luta pela democracia e pelos valores constitucionais não pode ser feita em isolamento. A falta de união em tempos críticos pode resultar na capitulação diante da autocracia. As eleições presidenciais, em particular, exigem uma abordagem colaborativa para garantir que as listas negras não se tornem uma realidade.
A responsabilidade por esta situação é coletiva. Não importa de que partido se trata, o problema é partilhado e exige uma resposta conjunta. A fragmentação das candidaturas que se afirmam democráticas e a falta de uma estratégia clara para enfrentar a ameaça das listas negras são alarmantes. A democracia não pode ser deixada ao acaso. É imperativo que todos os cidadãos e partidos se mobilizem para garantir que a liberdade e os direitos humanos sejam defendidos.
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Fonte: Sapo