A dificuldade das empresas em obter seguros adequados para os riscos da transição climática está a ameaçar o investimento em inovação sustentável. Segundo o relatório Insuring the Transition, publicado pela Federação Europeia das Associações de Gestão de Risco (FERMA), a situação permanece preocupante desde 2022. As seguradoras continuam a retirar ou a limitar coberturas essenciais para setores ligados à transição energética, criando lacunas que expõem as empresas a riscos financeiros e podem atrasar projetos de descarbonização.
Muitas seguradoras justificam estas restrições pela falta de dados históricos que permitam avaliar novos riscos. No entanto, a FERMA aponta que o problema vai além da escassez de informação; há também uma carência de capacidade técnica e atuarial nas companhias para analisar projetos inovadores de forma diferenciada. O resultado é um mercado marcado por exclusões indiscriminadas, afetando setores como a reciclagem, energias renováveis e a construção de infraestruturas.
Empresas do setor da reciclagem enfrentam limitações na cobertura devido ao risco elevado de incêndios provocados por baterias de lítio. Por sua vez, parques solares e eólicos registaram aumentos de prémios entre 20% e 40% em 2024. Projetos de captura de carbono ou hidrogénio são frequentemente excluídos por serem considerados “novos”, mesmo que já tenham ultrapassado a fase de protótipo.
Esta situação é particularmente grave para pequenas e médias empresas ou startups, que não têm a capacidade de reter riscos nos seus balanços ou de criar empresas cativas de seguro. Muitas destas empresas veem-se obrigadas a escolher entre avançar com soluções inovadoras, arriscando a sua sobrevivência financeira, ou abrandar os seus compromissos de sustentabilidade, conforme indica a FERMA.
Para resolver este impasse, o relatório destaca duas prioridades. A primeira é reforçar a recolha de dados e o conhecimento técnico. A FERMA defende que seguradoras, corretores e empresas devem colaborar desde o início do desenvolvimento de novos projetos para recolher e partilhar informação de risco em plataformas setoriais. Além disso, as companhias devem investir em engenheiros e especialistas capazes de avaliar as tecnologias emergentes com maior rigor.
A segunda prioridade é uma mudança de paradigma no setor segurador. Em vez de aplicar exclusões globais ou tarifas indiferenciadas, as seguradoras devem adotar uma abordagem construtiva e individualizada. Empresas que implementam medidas robustas de gestão de risco devem ser recompensadas com prémios mais justos. Sempre que a prevenção não seja suficiente, a resposta não deve ser um “não” definitivo, mas sim um “sim, se” acompanhado de um plano de mitigação.
Sem uma cobertura adequada, a transição energética encontra-se em risco. O setor segurador pode ser um travão ou um catalisador. Para a FERMA, é urgente que seguradoras, empresas, corretores e autoridades públicas colaborem. Só assim será possível transformar os riscos da transição em oportunidades e garantir que a economia europeia se torne mais verde e resiliente até 2050.
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Fonte: ECO