No passado dia 28 de setembro, tive a oportunidade de visitar o que resta do Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, onde se encontra uma notável exposição de fotografias de Eduardo Gageiro. A iniciativa é da “Largo Residências”, uma entidade sem fins lucrativos que gere os Jardins do Bombarda, localizados na rua Gomes Freire, 161. O nosso guia era excepcional e a luz suave do outono conferiu ao ambiente um toque melancólico.
Nos Jardins do Bombarda, respira-se uma tranquilidade cosmopolita. Para apreciar as fotografias de Gageiro, intituladas “Passos em Volta”, é necessário inscrever-se previamente no site. O espaço convida a momentos de lazer, como ler um livro ou observar famílias que conversam alegremente, quase como se estivéssemos numa cena de um filme francês.
O Hospital Miguel Bombarda é um lugar com uma aura peculiar, onde a história da psiquiatria em Portugal se entrelaça com a memória urbana e a ineficácia política de um Estado que parece perdido. Encerrado desde 2011, o hospital deixou de acolher doentes, mas permanece fechado e sem qualquer utilização pública. Com 4,5 hectares no coração de Lisboa, o local é um exemplo claro da incapacidade dos governos em tomar decisões.
Desde 2009, o complexo pertence à Estamo – Participações Imobiliárias, S.A., uma empresa pública responsável pela gestão do património do Estado. Adquirido por 25 milhões de euros ao Ministério da Saúde, o hospital entrou num limbo político e burocrático prolongado. A degradação do espaço avançou enquanto se aguardava uma decisão sobre o seu futuro, tornando-se uma vergonha nacional que se soma a outras situações semelhantes no país. Para ilustrar a situação, notícias indicam que o presidente da câmara de Lisboa aguardou um ano para visitar as instalações, evidenciando a complexidade da gestão da Estamo.
A visita é limitada, permitindo apenas fotografar o Panóptico, mas é possível observar a degradação do balneário D. Maria II e imaginar os doentes a serem acalmados em águas mornas. A exposição revela muitos aspectos da história do hospital, desde o tratamento das mulheres até a falta de espaço que levava à acumulação de doentes. Casos como o de Maria Adelaide Coelho da Cunha, internada em 1919 devido a um diagnóstico falso, demonstram a forma como a doença mental era gerida em Portugal. Outro exemplo é o de Valentim Barros, o primeiro bailarino português a ter uma carreira internacional, que foi internado durante quase 50 anos por ser homossexual.
Embora o Hospital Miguel Bombarda já não cure, continua a ser uma lição sobre a história da saúde mental em Portugal. Entre o abandono e a monumentalidade, o hospital reflete uma cidade e um país que hesitam entre preservar a miséria ou gerar riqueza. Apesar do desgoverno e da ineficácia nas empresas públicas, Portugal avança, embora preso a dogmas ideológicos e à incompetência que persiste na administração pública.
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Hospital Miguel Bombarda Hospital Miguel Bombarda Nota: análise relacionada com Hospital Miguel Bombarda.
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Fonte: ECO





