A costa de Brixham, no sul de Inglaterra, tem sido palco de uma surpreendente invasão de polvos, que está a transformar a economia local. O pescador Arthur Dewhirst ficou atónito ao puxar as redes do seu barco e descobrir uma quantidade impressionante de polvos, em vez dos habituais peixes como solhas ou pregados. “Dinheiro, dinheiro, dinheiro”, foi a primeira reação de Dewhirst, que viu as suas receitas dispararem com a venda deste cefalópode. Durante o verão, chegou a ganhar até 10 mil libras extras por semana, o que equivale a cerca de 11 mil euros.
Este fenómeno não passou despercebido aos restaurantes da região, que rapidamente começaram a incluir o polvo nas suas ementas. Os mercados também registaram uma procura sem precedentes, levando até um proprietário a partilhar um vídeo nas redes sociais, onde ensinava a preparar este ingrediente ainda pouco comum na gastronomia britânica.
Cientistas apontam o aquecimento das águas como uma das principais razões para a proliferação dos polvos. Steve Simpson, professor de biologia marinha da Universidade de Bristol, afirma que “a mudança climática é provavelmente um dos fatores que impulsionam esse boom populacional”. Com as águas a aquecerem, as condições tornam-se mais favoráveis para os polvos, que estão a aumentar em número.
Contudo, nem todos os pescadores estão satisfeitos com esta situação. Os que se dedicam à captura de caranguejos e lagostas estão a sentir o impacto negativo da invasão de polvos, que têm consumido os crustáceos. A autoridade local de regulação e conservação implementou uma lei que exige a instalação de “gaiolas de fuga” nos barcos pesqueiros, uma medida destinada a proteger as populações de caranguejos e lagostas. Os pescadores acreditam que os polvos estão a entrar e a sair dessas gaiolas, alimentando-se dos crustáceos que lá se encontram.
A situação é considerada única, mesmo para quem pesca há décadas. Dave Driver, um pescador com 49 anos de experiência, afirma que nunca viu algo semelhante. Carli Cocciardi, responsável pela recuperação da natureza marinha no Devon Wildlife Trust, menciona que o aumento do número de polvos nas águas inglesas já foi registado em 1900, 1950 e mais recentemente em 2022. “Este é um fenómeno novo. Não se sabe ao certo o que vai acontecer em termos de gestão, mas as autoridades irão certificar-se de que é algo sustentável caso venha a tornar-se uma característica permanente das águas inglesas”, explica Cocciardi.
No mercado de peixe de Brixham, as vendas de polvo dispararam, com 12 mil toneladas comercializadas entre janeiro e agosto, incluindo um recorde de 48 toneladas num único dia. Barry Young, responsável pelo leilão de polvos, descreve a situação como uma verdadeira invasão: “Dia após dia, mais e mais. Foi fantástico ver essas quantidades e uma bênção para todos”.
Leia também: O impacto das mudanças climáticas na pesca.
Leia também: Portugal pode desenvolver cadeia de valor para veículos elétricos
Fonte: Sapo





