A guerra na Ucrânia e a mudança nas prioridades dos Estados Unidos trouxeram o tema da defesa para o centro das atenções na Europa. Bruxelas anunciou um pacote de 150 mil milhões de euros em maio, destinado a apoiar os 27 Estados-membros na aquisição conjunta de equipamentos militares, através do programa Security Assistance for Europe (SAFE). Neste contexto, a NATO também exige um aumento nos investimentos dos países membros. Ricardo Mendes, CEO da Tekever, sublinha que este é um momento decisivo para Portugal, que deve apostar na criação de valor dentro das suas fronteiras. Mendes defende a necessidade de um ecossistema industrial forte, capaz de inovar rapidamente e de se adaptar às exigências do setor.
A Tekever, um dos mais recentes unicórnios portugueses, já está a operar na frente de combate ucraniana, através de um contrato com as Forças Armadas britânicas. A empresa anunciou investimentos significativos no Reino Unido e em França, que ultrapassam os 500 milhões de euros nos próximos cinco anos. Em Portugal, a Tekever planeia comprar cerca de 100 milhões de euros à indústria nacional nos próximos três anos e abriu recentemente um hub em Leiria.
João Brito, da Critical Software, afirma que o setor da defesa está a crescer e que as empresas devem aproveitar esta oportunidade. A Critical Software tem colaborado com as Forças Armadas portuguesas desde 2003 e está envolvida em projetos com a Diehl Defence, uma empresa alemã que fornece sistemas antiaéreos. Brito destaca que a colaboração com a Diehl levou a Critical a integrar o consórcio Beast, que visa tornar os sistemas de mísseis europeus mais eficazes.
A urgência em reforçar a autonomia estratégica da Europa na defesa foi acelerada pela guerra na Ucrânia. José Neves, presidente do AED Cluster, que reúne mais de 150 entidades do setor, acredita que Portugal tem condições para se destacar neste contexto. As empresas do cluster geram cerca de 2,1 mil milhões de euros em receitas anuais, e Neves vê o aumento dos orçamentos de defesa como uma oportunidade para consolidar a indústria nacional.
No entanto, Neves alerta que o aumento do orçamento de defesa não deve ser apenas um objetivo numérico. É crucial que os investimentos sejam direcionados para a criação de valor industrial e tecnológico em Portugal. Ele defende que é necessário um mecanismo claro de cooperação industrial que valorize as competências locais e estimule o crescimento de fornecedores estratégicos. Esta é uma janela crítica para estruturar uma economia de defesa em Portugal, com mais emprego qualificado e maior capacidade de exportação.
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Fonte: ECO





