A jornalista e escritora norte-americana Anne Applebaum afirmou, durante o FÓLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, que a Ucrânia não pode desistir de lutar contra a Rússia. A autora de “Gulag: Uma História”, que já recebeu um Prémio Pulitzer, sublinhou que a Rússia tem um histórico de derrotas em conflitos, o que levanta a possibilidade de a Ucrânia vencer a guerra e defender o seu território.
Applebaum questionou o que levará o povo russo a refletir sobre o conflito. “Vai chegar um momento em que as pessoas em Moscovo vão perguntar: porque é que estamos a fazer isto? Para quê?”, disse. A escritora mencionou casos de suicídios entre aqueles que questionam o regime de Putin, levantando a dúvida sobre até que ponto o custo da guerra será suficiente para que o presidente russo decida parar.
A autora, que esteve recentemente na Ucrânia, afirmou que os ucranianos estão determinados e não acreditam que serão derrotados. “Eles sabem que, se deixarem de lutar, enfrentarão um regime opressivo e a morte, apenas de uma forma diferente”, explicou. Apesar do apoio financeiro da Europa à Ucrânia, Applebaum expressou incerteza sobre a possibilidade de envio de tropas para o país.
Durante o debate, Raquel Vaz-Pinto, docente e analista de política internacional, acrescentou que a Rússia, assim como a China, procura dividir a Europa e enfraquecer a NATO. “O Kremlin tem financiado movimentos políticos em toda a Europa para criar ceticismo em relação à união europeia e à NATO”, denunciou. Vaz-Pinto também referiu que os russos estão a testar a resiliência europeia através de ataques com drones e caças, provocando medo e hesitação em relação ao apoio à Ucrânia.
Applebaum também abordou a polarização da sociedade norte-americana, explicando que as ligações comunitárias têm vindo a desaparecer, substituídas por interações online que reforçam visões semelhantes. “As pessoas estão a perder a capacidade de dialogar e a viver num ambiente de constante mudança, o que alimenta o medo e a desconfiança”, afirmou.
Apesar do cenário desanimador, Vaz-Pinto acredita que a história do século XX pode oferecer lições valiosas. “Não devemos ceder ao medo. Roosevelt dizia que isso era fundamental”, lembrou. A especialista sublinhou que a luta pelos direitos e pela igualdade deve continuar, mesmo em tempos difíceis.
“É importante lembrar que, mesmo nas épocas mais sombrias, as coisas podem mudar. Quem poderia imaginar a queda do muro de Berlim ou a desintegração da União Soviética? Precisamos de aprender com a nossa história e lutar pelos nossos direitos”, concluiu.
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Fonte: Sapo





