A democracia e a eterna espera pela mudança

A democracia é frequentemente vista como um espetáculo com um início, meio e fim, onde os eleitores esperam que a noite eleitoral traga mudanças significativas. No entanto, a realidade é bem diferente. Após cada eleição, o mundo continua a girar, com os mesmos problemas a persistirem, como as longas filas nos centros de saúde e as estradas esburacadas. O que se segue a cada sufrágio é um ciclo de promessas que muitas vezes não se concretizam.

A beleza da democracia reside na sua imperfeição cíclica. Cada eleição é apenas um capítulo de um livro interminável, onde os cidadãos esperam que os eleitos cumpram as suas promessas. Contudo, o marketing político e os media parecem preferir transformar cada sufrágio numa competição, onde os eleitores se tornam adeptos, mais preocupados em vencer do que em compreender as políticas que estão em jogo. Este fenómeno leva a uma discussão superficial, focada em percentagens e vitórias, em vez de um debate profundo sobre o futuro do país.

A democracia assemelha-se à peça “Esperando Godot”, de Samuel Beckett, onde os personagens aguardam por alguém que nunca chega. Assim como Vladimir e Estragon, os cidadãos esperam por reformas que resolvam os problemas que os afligem, acreditando que, desta vez, a mudança será real. Esta espera, apesar de absurda, é o que alimenta a esperança na sociedade.

Friedrich Nietzsche introduziu o conceito do “eterno retorno”, que sugere que tudo o que acontece se repetirá indefinidamente. Para aqueles que acreditam no progresso, esta ideia pode ser desanimadora, mas para os que vivem de ciclos eleitorais, é reconfortante. No entanto, é crucial lembrar que um mandato é uma procuração, um voto que confere a alguém a responsabilidade de resolver os problemas da sociedade. Infelizmente, muitos eleitos, ao assumirem o poder, esquecem-se dessa responsabilidade e tratam o seu cargo como um trono.

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A democracia observa tudo isto com paciência, sempre pronta a regressar de quatro em quatro anos, trazendo consigo a mesma esperança e a pergunta que todos se fazem: “Será que é desta?” A verdade é que, muitas vezes, não é. E é precisamente nesse agridoce encanto da democracia que reside a sua essência: não entrega finais felizes, mas sim continuações possíveis. O ser humano, por sua natureza, é resiliente, capaz de cair, levantar-se e tentar novamente.

Como bem disse o meu Tio Olavo: “Nas democracias, o poder muda de mãos, mas o enredo continua a ser escrito pelos mesmos dedos apressados e as mesmas cabeças distraídas que acreditam que o próximo capítulo será o último.”

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Fonte: ECO

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