A proposta da administração norte-americana, liderada por Donald Trump, de implementar uma tarifa de 100% sobre filmes produzidos fora dos Estados Unidos está a gerar descontentamento na Academia Portuguesa de Cinema. Diogo Camões, diretor-geral da instituição, expressou a sua preocupação ao Jornal Económico, afirmando que, se esta medida avançar, será “apenas mais um gesto previsível da sua miopia”.
Camões sublinha que a tarifa de 100% sobre filmes estrangeiros, anunciada no final de setembro, deve ser encarada “com ceticismo” e não “levada a sério de imediato”. O diretor-geral considera que esta proposta reflete um governo que tem adotado “medidas ruidosas e de aplicação duvidosa”.
Embora a ameaça de tarifas sobre a indústria cinematográfica estrangeira seja uma realidade, existem poucos detalhes sobre a sua implementação. Camões destaca que o atual governo dos EUA tem uma tendência para transformar ameaças tarifárias em “exercícios retóricos”, com grande impacto mediático, mas pouca clareza prática. Ele questiona o mecanismo de cálculo e a definição de “filme americano”, num setor onde a colaboração internacional é cada vez mais comum.
A posição do governo dos EUA é clara. Trump utilizou a sua rede social Truth Social para afirmar que o cinema norte-americano foi “roubado” por outros países, comparando a situação a “roubar um doce a uma criança”. No entanto, dados da Motion Picture Association, citados pela Reuters, revelam que a indústria cinematográfica dos EUA teve um excedente de 15,3 biliões de dólares em 2023, com exportações de 22,6 biliões de dólares para mercados internacionais.
A ameaça tarifária surge num momento em que o cinema português está a ganhar destaque internacional. Em 2024, a receita do cinema nacional atingiu 73,3 milhões de euros, de acordo com dados do ICA. Apesar de uma ligeira diminuição na produção, com 98 filmes em 2023 e 96 em 2024, o cinema português continua a ser reconhecido em festivais internacionais, como o Festival de Cannes e o Berlinale.
Diogo Camões critica a abordagem do governo norte-americano, afirmando que, ao taxar filmes que não controla, revela “mais medo do que força”. Ele considera que essa medida não fortalecerá a indústria cinematográfica dos EUA, mas poderá “isolar” o setor, encarecendo o acesso ao cinema internacional para o público norte-americano.
“Portugal e outros países continuarão a encontrar novos circuitos internacionais e públicos abertos a olhares diversos. Quem insiste em erguer barreiras condena-se a empobrecer o seu horizonte cultural”, conclui Camões.
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Fonte: Sapo





