Vivemos numa era em que a polarização se tornou uma verdadeira epidemia social. Este fenómeno, que se manifesta na forma de extremismo e radicalização, não é apenas uma questão de opiniões divergentes, mas sim um processo que nos leva a reforçar as nossas crenças em debates sobre temas controversos. A polarização, segundo o dicionário Priberam, refere-se à concentração de ideias em polos opostos, e a sua presença no nosso dia a dia é cada vez mais evidente.
A polarização é muitas vezes classificada como uma dependência oculta. De forma consciente ou inconsciente, ela oferece uma sensação de pertença e segurança num mundo cada vez mais complexo. Ao escolher um dos lados, simplificamos o nosso pensamento e validamos as nossas convicções, criando a ilusão de que estamos sempre do lado certo. Contudo, tal como qualquer vício, a polarização exige doses cada vez maiores para manter o mesmo efeito, levando-nos a um estado de indignação constante e a uma mentalidade de “nós contra eles”. O que parece ser clareza é, na verdade, uma dependência disfarçada de convicção.
Um dos perigos da polarização é o empoderamento de indivíduos que se sentem confiantes em discutir temas que, muitas vezes, não dominam. Este fenómeno é explicado pelo efeito Dunning-Kruger, que sugere que aqueles que têm apenas um conhecimento superficial sobre um assunto tendem a ser os mais autoconfiantes. Por exemplo, os recém-encartados na condução são frequentemente mais cuidadosos, mas à medida que ganham confiança, os acidentes aumentam. Este fenómeno é também visível em movimentos como o anti-vacinas, onde muitos participantes têm formação superior, mas não na área em questão.
As redes sociais desempenham um papel crucial na amplificação da polarização. Elas transformam o conhecimento específico em genérico, criando uma caricatura do que realmente se discute. O resultado é uma visão empobrecida do debate, onde as diferentes perspetivas são ignoradas. Um estudo recente da NewsGuard revela que as informações falsas quase duplicaram, passando de 18% para 35% nas respostas a perguntas sobre temas noticiosos. Esta tendência é alarmante e reforça a ideia de que a polarização pode fragmentar a sociedade e amplificar o ódio.
A polarização não é, no entanto, totalmente negativa. Ela pode ser um motor de ação social, mas torna-se perigosa quando o discurso público não permite diálogo e moderação. A solução para este problema não é simples. Os desmentidos raramente chegam a quem precisa e o debate online não substitui a deliberação presencial. Precisamos de criar espaços de reflexão e conciliação, onde a prudência se sobreponha à arrogância. Perguntar, duvidar e ouvir o outro não é fraqueza, mas sim uma defesa necessária.
Em suma, a polarização é uma droga que fragiliza o debate e a convivência social. Para que possamos avançar, é essencial que aprendamos a lidar com as nossas diferenças de forma construtiva. Leia também: Como a comunicação pode influenciar o debate público.
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Fonte: ECO





