O Prémio Nobel da Economia de 2025 foi atribuído a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, reconhecendo a sua contribuição na compreensão de como a inovação e a “destruição criativa” são fundamentais para o crescimento económico. Mokyr destaca as condições históricas e culturais que favorecem o progresso tecnológico, enquanto Aghion e Howitt explicam o mecanismo schumpeteriano, onde novas tecnologias substituem as antigas, aumentando a produtividade e os salários a longo prazo. Esta teoria não é apenas académica, mas um guia prático para países que desejam prosperar. Em Portugal, é crucial que esta abordagem seja rapidamente integrada nas políticas de desenvolvimento a nível governamental, local e empresarial.
Infelizmente, o discurso político em Portugal tem-se frequentemente centrado no medo. O receio da inovação disruptiva, como a inteligência artificial e a robotização, é visto como uma ameaça em vez de uma oportunidade. A reestruturação empresarial é muitas vezes interpretada como um sinal de falência do sistema de mercado, em vez de ser reconhecida como parte da dinâmica competitiva que pode redirecionar recursos para setores mais produtivos. Além disso, a transformação urbana é frequentemente demonizada, com a gentrificação a ser utilizada como um espantalho retórico que desvia a atenção das falhas do Estado em planear e executar políticas eficazes.
Recentemente, a Microsoft Portugal anunciou um despedimento coletivo que afetou 68 trabalhadores. Esta situação exige respostas, como requalificação e apoio à transição, mas não deve ser usada para demonizar a economia digital. A decisão da empresa foi parte de uma reorganização global que visa alinhar as equipas com novas prioridades, desde a computação em nuvem até à inteligência artificial generativa. O foco deve estar na capacitação e mobilidade, preparando tanto as pessoas como as organizações para os novos ciclos de investimento.
A inovação, embora possa destruir alguns empregos, também cria novas oportunidades. A investigação premiada pela Academia Sueca mostra que, em equilíbrio dinâmico, a inovação gera setores e carreiras que antes não existiam. Recusar o processo de inovação por medo pode levar à estagnação. É necessário implementar políticas que reduzam os custos individuais da mudança e mantenham a concorrência viva, permitindo que a criação supere a destruição. Aghion alerta que a proteção do mercado interno e o dirigismo avesso ao risco sufocam a inovação; a abertura, a competição e o investimento em I&D são essenciais para o seu florescimento.
No que diz respeito à transformação urbana, a gentrificação é frequentemente utilizada como uma crítica a qualquer mudança. No entanto, as cidades que prosperam são aquelas que se adaptam e atraem investimento. A reabilitação de bairros e a abertura de novos negócios não significam a destruição da cidade, mas a sua reinvenção. A política urbana deve equilibrar crescimento e coesão, utilizando instrumentos concretos para garantir habitação acessível e incentivos à construção mista.
É preocupante quando líderes políticos transformam cada despedimento ou reestruturação em prova de um modelo falhado. A retórica que defende a proteção de empregos muitas vezes bloqueia as condições necessárias para que esses empregos existam no futuro. Para garantir um futuro próspero, é fundamental que haja capital humano atualizado, políticas de apoio à difusão tecnológica e mercados abertos.
Em suma, Portugal precisa de um pacto pragmático que promova a inovação e a criação de riqueza. Isso inclui metas de I&D, reconversão profissional rápida e regulação que favoreça a concorrência. O Prémio Nobel deste ano é um lembrete de que o medo não cria valor. O que impulsiona o progresso é a ambição informada, a coragem para reformar e a disposição para aprender com os que já demonstraram como crescer no século XXI. A inovação não é uma ameaça; o medo, esse sim, pode devorar-nos por dentro.
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Fonte: ECO





