Portugal, conhecido pela sua biodiversidade e paisagens naturais, enfrenta uma crescente pressão sobre os seus ecossistemas. A intensificação da agricultura, os incêndios florestais, a fragmentação dos habitats e a escassez de água estão a comprometer a capacidade dos ecossistemas de se regenerarem, afetando serviços essenciais como a produção alimentar e a regulação climática.
A recente entrada em vigor da Lei Europeia do Restauro da Natureza representa um momento decisivo. Esta legislação estabelece metas ambiciosas, como a restauração de 20% das áreas terrestres e marinhas degradadas até 2030 e a recuperação de todos os ecossistemas que necessitam de intervenção até 2050. Para Portugal, esta é uma oportunidade de transformar uma obrigação europeia numa estratégia de liderança em restauro ecológico.
O Plano Nacional de Restauro da Natureza (PNRN), que está a ser elaborado, será fundamental para atingir estas metas. Este plano deverá identificar as áreas a restaurar com base no estado atual dos ecossistemas, prever ações concretas, estimar custos e indicar fontes de financiamento. Além disso, é crucial que haja uma participação pública ativa desde o início. A WWF Portugal, que integra a Comissão de Acompanhamento do PNRN, defende três condições essenciais: transparência, planeamento estratégico e um financiamento adequado e eficiente.
Para além do plano, foi promovido um estudo detalhado do território continental, que identificou áreas-chave para a intervenção ecológica. Deste trabalho resultaram nove zonas prioritárias, com o compromisso de restaurar pelo menos três entre 2026 e 2030. A iniciativa Re-Store Portugal surge assim, reunindo ciência, experiência prática e o envolvimento da sociedade civil, incluindo empresas, cidadãos e decisores políticos, alinhando-se com os compromissos europeus e globais.
O restauro ecológico não é apenas uma questão ambiental; é também uma questão económica. Estudos indicam que cada euro investido em restauro pode gerar entre 8 e 51 euros em retorno. Ecossistemas saudáveis não só reduzem custos de saúde pública como também aumentam a produtividade agrícola, protegem contra catástrofes naturais e valorizam o território. Por exemplo, o restauro de florestas degradadas pode gerar até 25 euros por cada euro investido, segundo a OCDE. Além disso, a Rede Natura 2000 gera até 300 mil milhões de euros por ano e sustenta 4,4 milhões de empregos.
Ignorar esta oportunidade seria um erro estratégico. O restauro ecológico é uma das agendas mais transformadoras da próxima década. A sua concretização dependerá da capacidade de Portugal em alinhar políticas públicas, mobilizar investimento e envolver a sociedade na proteção do capital natural de que dependemos. Seremos capazes de reunir a ambição coletiva necessária para levar a cabo esta missão?
Leia também: O impacto da biodiversidade na economia nacional.
restauro ecológico restauro ecológico Nota: análise relacionada com restauro ecológico.
Leia também: Direito de livre resolução nas compras online: saiba as regras
Fonte: Sapo





