Mercado Voluntário de Carbono em Portugal: impacto real ou ilusão?

Portugal lançou recentemente o seu Mercado Voluntário de Carbono (MVC), uma iniciativa que visa direcionar investimentos privados para ações climáticas. Contudo, a questão que se coloca é se este mercado realmente terá um impacto significativo ou se servirá apenas para acalmar consciências.

O MVC permite que empresas e cidadãos compensem as suas emissões de carbono através da aquisição de créditos gerados por projetos que capturam ou evitam a emissão de CO₂. Do ponto de vista ambiental, o potencial do MVC é considerável. Ao alinhar a política climática com o ordenamento do território, esta ferramenta pode valorizar florestas e solos agrícolas, incentivando a gestão ativa do interior e contribuindo para a redução do abandono rural e do risco de incêndios. Se for bem implementado, o Mercado Voluntário de Carbono pode diversificar as fontes de rendimento das comunidades rurais, transformando o carbono num ativo económico.

No entanto, existem riscos que não podem ser desconsiderados. Florestas homogéneas em locais inadequados podem empobrecer os ecossistemas e agravar problemas já existentes. A produção com uma baixa pegada de carbono não implica necessariamente o respeito pela natureza. Um exemplo disso é o olival superintensivo, que, apesar de ter uma baixa pegada por tonelada de azeite, quase não promove a biodiversidade. O verdadeiro ganho ambiental é alcançado em ecossistemas multifuncionais, como o Montado, onde a floresta, a agricultura e a pastagem coexistem, criando valor ecológico e resiliência.

Além do seu contributo ambiental, o Mercado Voluntário de Carbono pode também ter um impacto positivo na economia. Esta iniciativa pode abrir novas oportunidades de investimento, reduzir a dependência de fundos públicos e criar empregos em setores relacionados com a monitorização e certificação climática. Adicionalmente, pode reforçar a competitividade de Portugal em relação às metas europeias e ao Mecanismo de Ajuste de Carbono nas Fronteiras, que penaliza as importações mais poluentes. Contudo, se o MVC se limitar à venda de compensações sem promover reduções reais de emissões, poderá transformar-se num mero exercício de marketing verde.

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No contexto internacional, o carbono tornou-se uma moeda de influência, utilizada por países como a Noruega e a Suíça como parte da sua diplomacia verde. Com a criação do seu próprio sistema, Portugal poderá ganhar autonomia e afirmar-se como um laboratório europeu de integridade climática. No entanto, a volatilidade dos mercados é elevada e alterações nas metas globais podem desvalorizar os créditos, minando a confiança dos investidores.

O sucesso do Mercado Voluntário de Carbono dependerá de metodologias públicas, verificação independente e rastreabilidade, evitando erros do passado. Sem rigor, transparência e resultados concretos, corre-se o risco de que esta iniciativa se reduza a mais um exercício de marketing climático.

Leia também: O impacto das políticas climáticas na economia portuguesa.

Mercado Voluntário de Carbono Nota: análise relacionada com Mercado Voluntário de Carbono.

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Fonte: Sapo

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