Em Sines, uma pequena cidade da costa alentejana, está a emergir um novo paradigma para as carteiras de investimento. A Start Campus inaugurou recentemente o SIN01, o primeiro de seis módulos do seu hyperscaler, um centro de dados de grande escala. Este projeto, financiado pela Davidson Kempner Capital Management e pela Pioneer Point Partners, representa um investimento significativo, com capacidade para 31MW, o que equivale ao consumo energético de todo o parque residencial de Braga. No final, prevê-se um investimento total de 8,5 mil milhões de euros, com capacidade para atrair mais 30 mil milhões em equipamentos.
Sines destaca-se pela sua localização estratégica, com ligações de fibra ótica a quatro continentes. O objetivo é captar investimentos em inteligência artificial (IA), como o da Nscale, que irá instalar 12.600 unidades de processamento da Nvidia para apoiar a Microsoft na oferta de recursos avançados de IA na União Europeia. Assim, a cidade ilustra três tendências que vão moldar as carteiras de investimento até 2026: a intersecção entre energia, tecnologia e infraestruturas críticas.
Os centros de dados, que antes eram considerados ativos de nicho, tornaram-se essenciais para as carteiras de investimento. O Goldman Sachs prevê que a procura global por capacidade de computação associada à IA duplique entre este ano e o próximo. Isso implica a necessidade de redes elétricas mais robustas e de armazenamento em larga escala.
Com a descida dos rendimentos das obrigações e da dívida soberana, os investidores estão a procurar refúgio em ativos que ofereçam estabilidade e crescimento real. As ações de empresas que ligam o mundo físico ao digital estão a ganhar destaque. O Goldman Sachs recomenda que se sobreponham investimentos em utilities e tecnologia de infraestruturas, enquanto o JP Morgan aponta para as empresas que alimentam a IA, como fabricantes de chips e operadores de rede, como o núcleo do próximo ciclo de lucros.
O investimento em energia está a evoluir de uma questão de transição para uma questão de segurança. A eletricidade tornou-se um ativo estratégico na economia digital, e o Deutsche Bank estima que a procura energética dos centros de dados globais possa duplicar até 2026. Isso exigirá um investimento massivo em linhas de transmissão e armazenamento.
Nas matérias-primas, o cobre, o alumínio e o urânio são considerados essenciais para a próxima fase do investimento industrial. O cobre, em particular, enfrenta uma escassez significativa, com um défice global que poderá ultrapassar 1,2 milhões de toneladas em 2026. O urânio também está a ganhar destaque com o renascimento da energia nuclear na Europa e no Japão.
O crédito privado e as infraestruturas essenciais estão a captar o capital que se afasta das obrigações. O private credit oferece rendimentos ajustados ao risco, enquanto a infraestrutura, especialmente redes elétricas e centros de dados, combina estabilidade regulatória e procura a longo prazo. O Deutsche Bank considera que o défice de investimento em infraestrutura energética e digital na Europa representa uma oportunidade geracional.
A geografia também desempenha um papel crucial. Os Estados Unidos continuam a ser o motor de inovação, mas a instabilidade fiscal pode limitar margens. A Europa, por sua vez, ganha importância pela sua estabilidade regulatória. O sudeste asiático, especialmente o Vietname e a Malásia, está a tornar-se um destino preferido para a relocalização industrial.
A OCDE projeta que o crescimento mundial estabilize em 3,3% até 2026, o que exige que os investidores combinem geografias complementares. O próximo ano será um período de maturação para as tendências atuais, com taxas mais baixas e capital em busca de crescimento produtivo. As carteiras de investimento terão de se adaptar a um novo mapa, onde centros de dados, energia e tecnologia serão fundamentais. Investir não será apenas uma questão de risco ou segurança, mas sim de escolher o que perdura ao longo do tempo.
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Fonte: Sapo





