Minerais críticos e a nova geopolítica da Transição Energética

A Transição Energética está a transformar-se num novo tabuleiro geopolítico, onde os minerais críticos se destacam como um campo de disputa entre potências globais. Neste contexto, a China assume um papel preponderante, dominando mais de 90% das etapas de refinação e fabrico de ímanes permanentes, essenciais para a Transição Energética e para a Inteligência Artificial. A segurança energética, que antes era vista apenas como uma questão técnica, tornou-se um tema central na política externa e na soberania económica.

A crescente tensão geopolítica tem levado a uma maior atenção sobre os minerais críticos na agenda diplomática, especialmente por parte da União Europeia e dos Estados Unidos. A Agência Internacional de Energia (IEA) tem alertado para os riscos associados à elevada concentração das cadeias de abastecimento, particularmente nas fases de processamento e refinação. O Global Critical Minerals Outlook 2025 da IEA revela que, em 19 dos 20 minerais estratégicos mais importantes, a China é o principal refinador, detendo uma quota média de mercado de 70%. Esta concentração crescente acentua as vulnerabilidades face a choques e disrupções.

O fornecimento de terras raras, que são cruciais para a produção de ímanes permanentes, é um dos menos diversificados geograficamente. Em 2024, a China foi responsável por cerca de 60% da produção mineira mundial de terras raras, seguida por Myanmar, Austrália e Estados Unidos. O domínio chinês é ainda mais acentuado nas etapas de separação e refinação, onde representa cerca de 91% da produção global. A Malásia surge como um segundo produtor, mas a distância é significativa.

Além disso, a China tem reforçado a sua posição no fabrico de ímanes permanentes, que são componentes essenciais em diversas indústrias, como automóveis e turbinas eólicas. Há duas décadas, a China representava cerca de 50% da produção de ímanes permanentes, mas atualmente essa quota subiu para impressionantes 94%. Este domínio coloca a China como o maior fornecedor mundial de componentes críticos para a Transição Energética, a Inteligência Artificial e a segurança internacional.

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A concentração de produção não é apenas um desequilíbrio económico, mas também uma vulnerabilidade estratégica para as cadeias de valor globais que sustentam a Transição Energética e a economia digital. Neste cenário, a segurança energética deve ser entendida como um conceito multidimensional. Para garantir a sua viabilidade a longo prazo, é necessário um planeamento energético que integre as dimensões técnica, económica, política e ambiental.

A urgência de uma abordagem holística ao planeamento energético é evidente, considerando também os fatores geopolíticos e de segurança internacional. Ferramentas de apoio à decisão e modelos preditivos, que utilizam Machine Learning e Inteligência Artificial, podem ser cruciais para antecipar cenários de risco e otimizar o equilíbrio entre oferta e procura.

Ao integrar estas dimensões, os decisores poderão desenvolver políticas energéticas mais robustas, que conciliem segurança, sustentabilidade e competitividade. A segurança energética, portanto, deixou de ser apenas uma questão de abastecimento e infraestrutura. Hoje, é um pilar de soberania e estabilidade internacional. A nova geopolítica da energia é jogada tanto nas minas de lítio e terras raras como nos algoritmos que gerem redes elétricas e data centers. É fundamental assegurar autonomia estratégica e resiliência económica num mundo em constante transformação. A energia continua a ser um instrumento de poder e de futuro.

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Transição Energética Nota: análise relacionada com Transição Energética.

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Fonte: Sapo

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