Todos os anos, a revista norte-americana “Engineering News Record” (ENR) divulga a lista das 225 maiores empresas de engenharia do mundo. Na edição de agosto passado, ficou claro que, apesar da Europa ser o bloco mais forte neste setor, com mais de 30% do mercado global e 56 empresas no ranking, Portugal ocupa uma posição desanimadora. O país conta apenas com duas empresas, cuja faturação conjunta é de 36,9 milhões de dólares, representando apenas 0,04% do mercado mundial.
Para se ter uma ideia da disparidade, a Dinamarca, com cerca de seis milhões de habitantes, possui empresas com faturações médias de mil milhões de dólares. A Bélgica, com uma população semelhante à de Portugal, apresenta uma média de 450 milhões de dólares. Na vizinha Espanha, que é quatro vezes maior, as empresas faturam cerca de 220 milhões cada. Até a Grécia, com empresas que faturam em média 84 milhões, supera as maiores de Portugal.
A realidade do setor de engenharia em Portugal pode ser explicada por diversos fatores. A maior parte do tecido empresarial é composta por pequenas e microempresas, onde muitos profissionais trabalham em estruturas que não priorizam a gestão, o crescimento ou a internacionalização. Além disso, a falta de uma massa crítica impede a competição em mercados internacionais, que exigem empresas robustas, com capacidade financeira e experiência na gestão de riscos. No nosso país, as empresas que faturam acima de 20 milhões de euros são uma raridade.
Outro problema significativo é a forma como a consultoria de arquitetura e engenharia é frequentemente tratada como uma mera mercadoria. Essa abordagem resulta numa espiral de preços baixos, projetos de qualidade inferior e uma incapacidade das empresas para crescer e modernizar-se. Também faltam mecanismos eficazes para promover fusões, exportações e internacionalização. Os seguros de responsabilidade civil são limitados e os de crédito à exportação não funcionam de forma eficaz.
Os agentes estatais e adidos comerciais demonstram um conhecimento limitado sobre o setor, muitas vezes focando-se em produtos como sapatos, vinho e cortiça, mas não compreendendo adequadamente os serviços de engenharia e arquitetura. Apesar de fatores como PIB per capita, língua ou proximidade geográfica ao centro da Europa, os números mostram que o problema é estrutural e cultural, não geográfico.
Enquanto outros países europeus conseguiram consolidar grandes grupos capazes de competir a nível global, Portugal continua a ter um setor fragmentado, constituído por empresas pequenas, com limitações em termos de dimensão e ambição. Para mudar este panorama, é urgente investir em estruturas, gestão, inovação e reconhecimento institucional. Como já dizia Jorge Palma, “Ai, Portugal, Portugal… De que é que tu estás à espera?”
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Fonte: Sapo





