Num momento em que o equilíbrio orçamental é uma prioridade, a reflexão sobre o papel da ciência e inovação na economia portuguesa torna-se essencial. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta para a necessidade de manter o impulso económico após 2026, e o investimento em investigação e inovação pode ser a chave para o crescimento sustentável do país.
O FMI destaca a importância de garantir a eficiência da despesa pública e a redução de isenções fiscais, especialmente após os cortes no IRS e IRC. No entanto, a solução não se resume à contenção de despesas. É fundamental transformar a estrutura produtiva, onde a ciência e inovação podem ser motores de produtividade e valor acrescentado. Reduzir a despesa sem investir no conhecimento comprometeria o futuro em nome do equilíbrio presente.
Atualmente, Portugal apresenta um desempenho económico que se traduz num equilíbrio das contas públicas. O FMI prevê um excedente orçamental de 0,2% do PIB para este ano e um saldo orçamental de 0% em 2026, caso não sejam implementadas novas medidas. Apesar dos números promissores, o progresso só será sustentável se for acompanhado por uma estratégia que promova o crescimento inteligente, centrado na investigação científica, na inovação tecnológica e na valorização do capital humano.
Investir em ciência e inovação deve ir além do financiamento de laboratórios e projetos. É crucial criar ecossistemas de inovação que aproximem instituições de ensino superior, empresas e o setor público, facilitando a transferência de conhecimento e a criação de soluções tecnológicas aplicadas à economia real. Além disso, é imperativo melhorar o acesso ao financiamento para a investigação e reduzir a burocracia que ainda impede o avanço de muitas iniciativas científicas e empresariais.
A investigação de ponta requer previsibilidade e confiança institucional. Estes fatores dependem de políticas estáveis e de uma visão estratégica de longo prazo. A ciência não prospera em ambientes de incerteza, e a inovação não surge de ciclos curtos de investimento. Portanto, a educação desempenha um papel crucial neste processo. O FMI reconhece a importância de melhorar os resultados educativos, e Portugal deve formar cidadãos capazes de pensar criticamente, criar e aplicar conhecimento em contextos novos e complexos. Apenas assim a investigação e a inovação se traduzirão em valor económico e social.
Em suma, a consolidação orçamental não deve significar uma retração, mas sim uma reorientação inteligente dos recursos públicos. A estabilidade das contas é fundamental, mas sem um investimento contínuo em ciência e inovação, essa estabilidade será apenas aparente. O verdadeiro equilíbrio económico constrói-se com base no conhecimento, que é o único ativo que se multiplica quanto mais se partilha.
Se Portugal quiser manter o ritmo de crescimento e resistir às pressões externas, é necessário transformar a investigação e a inovação de áreas acessórias em prioridades estruturais. O crescimento sustentável não se impõe por decreto nem por austeridade. Leia também: O papel da educação na inovação em Portugal.
ciência e inovação Nota: análise relacionada com ciência e inovação.
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Fonte: ECO





