O setor automóvel em Portugal é um pilar fundamental da economia nacional, contribuindo significativamente para o emprego e a inovação. Com mais de 30 mil empresas e 165 mil trabalhadores, representa cerca de 18% das receitas fiscais do Estado, sendo o maior contribuinte líquido do país. Em 2024, as exportações do setor atingiram quase 10 mil milhões de euros, um valor que se reflete positivamente no PIB e no equilíbrio das contas públicas.
Contudo, a proposta de Orçamento do Estado para 2026, apresentada a 9 de outubro, praticamente ignora este setor vital. A única alteração relevante diz respeito à atualização da norma para viaturas “plug-in” matriculadas sob o padrão Euro 6e-bis, que eleva o limite de emissões de 50 g/km para 80 g/km. Para além disso, o documento não contempla outras medidas que poderiam beneficiar um dos setores mais estratégicos da economia portuguesa.
Os governos têm seguido, de forma quase automática, as diretrizes de Bruxelas sobre a transição energética, sem considerar se estas políticas são adequadas à realidade do país. Embora os incentivos à aquisição de veículos elétricos e híbridos plug-in tenham impulsionado as vendas — em 2024, 22% dos automóveis novos vendidos eram totalmente elétricos e quase 50% eletrificados, números que superam a média europeia —, é pertinente questionar se estamos a alcançar os objetivos pretendidos.
Se o objetivo é reduzir as emissões de CO₂, os resultados são contraditórios. O parque automóvel português conta com cerca de 6,5 milhões de viaturas, das quais apenas 2,2% são elétricas. Enquanto as empresas renovam as suas frotas com o apoio do Estado, a maioria dos particulares, que representa a maior parte do parque, continua excluída deste processo.
A classe média enfrenta dificuldades financeiras para adquirir veículos novos ou elétricos, que se tornam cada vez mais caros e desajustados à realidade das famílias. Como resultado, as importações de veículos usados superam as 100 mil unidades por ano, com uma idade média superior a 7 anos, o que contribui para o envelhecimento do parque automóvel nacional. Atualmente, a idade média dos veículos ultrapassa os 14 anos, o que agrava os problemas ambientais, económicos e de segurança rodoviária.
Por isso, temos defendido a reintrodução de um Programa de Incentivo ao Abate de Veículos em Fim de Vida. Esta medida, de baixo custo orçamental, poderia ter um elevado retorno ambiental, social e económico. Um programa que teria um impacto real na renovação do parque automóvel, na redução das emissões e na dinamização do mercado interno.
Os decisores políticos devem olhar para além do imediato e considerar o panorama geral. A sustentabilidade do futuro não se constrói apenas com anúncios, mas com políticas que façam sentido para as pessoas, para as empresas e para o país. Leia também: A importância da inovação no setor automóvel.
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Fonte: Sapo





