A inflação social é uma força invisível que está a provocar uma verdadeira tempestade no setor segurador em Portugal. Embora não apareça nas manchetes diárias, esta inflação tem um impacto significativo nos custos com sinistros, que estão a aumentar muito mais do que a taxa de inflação habitual. Este fenómeno é alimentado por uma combinação de perceções sociais, decisões judiciais imprevisíveis e uma crescente expectativa de que as seguradoras devem pagar mais.
Quando os cidadãos acreditam que têm direito a indemnizações elevadas e quando os tribunais começam a atribuir valores cada vez mais altos, o custo de reparar danos dispara. As oficinas, por sua vez, estão a mudar a sua abordagem, substituindo peças em vez de as reparar, uma vez que sabem que as seguradoras têm capacidade financeira para cobrir esses custos. Esta mudança de mentalidade é um reflexo da inflação social, que se alimenta de uma sociedade mais litigante e de um ambiente legal em constante evolução.
Os sinais são claros: as seguradoras em Portugal estão a reportar prejuízos significativos, especialmente no ramo automóvel. Para o próximo ano, os prémios de seguro deverão aumentar entre 6% e 9%, muito acima da taxa de inflação de 2,4%. Este aumento é impulsionado não apenas pelos custos de reparação e despesas médicas, mas também por esta força invisível que é a inflação social.
Para os atuários e especialistas em risco, a questão torna-se complexa. Como medir algo que não tem um índice oficial? A resposta tradicional é comparar o que aconteceu com o que se esperava, mas quando a realidade supera sistematicamente as previsões, é evidente que há uma força extra em jogo. Esta é a essência da inflação social.
As empresas de seguros não podem simplesmente ignorar esta realidade; precisam de encontrar formas de navegar por esta nova realidade. Isso implica ser mais ágeis e prudentes, ajustando os preços e reforçando as reservas técnicas para antecipar a pressão que a inflação social exerce sobre os seus modelos de negócio. É fundamental que as seguradoras compreendam as tendências sociais e as decisões judiciais, integrando esses dados nos seus modelos de avaliação de risco.
Além disso, é essencial que as seguradoras promovam a mediação e a conciliação, evitando que os conflitos cheguem aos tribunais. Um acordo justo e rápido pode ser uma solução eficaz para mitigar os efeitos da inflação social.
No fundo, a inflação social reflete uma sociedade em transformação, que está a redefinir conceitos como risco e responsabilidade. Em um contexto onde a perceção de injustiça é crescente, as empresas de seguros podem ser vistas como cofres sem fundo. Contudo, a realidade é que, sem prémios que reflitam os custos reais, a sustentabilidade do setor segurador está em risco.
Reconhecer a inflação social é o primeiro passo para enfrentar os desafios que ela apresenta. Ignorá-la é um erro que pode ter consequências graves para o futuro do setor. A inflação social é, portanto, um sismo invisível que está a abalar os alicerces do setor segurador em Portugal.
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Fonte: ECO





