A COP30, realizada em Belém do Pará, Brasil, ocorreu num dos contextos internacionais mais desafiadores da última década. A conferência foi marcada por tensões geopolíticas, ausências significativas e a necessidade de conciliar interesses de países ainda dependentes dos combustíveis fósseis. As negociações foram intensas, culminando em um incêndio no penúltimo dia, que simbolizou a urgência da situação. O Presidente da COP alertou que um não-acordo significaria “a morte do Acordo de Paris”.
Como participante pela 13.ª vez numa Conferência das Partes, a responsabilidade pesava sobre mim. A experiência permite uma visão crítica sobre o que é desejável e o que é viável, especialmente em momentos cruciais para a continuidade do processo. Desde o início, defendi a necessidade de avançar nas negociações. Embora o resultado não tenha correspondido totalmente às ambições da União Europeia, recusar o acordo teria sido um retrocesso para todos, especialmente para os países mais vulneráveis.
Recordo claramente a noite em que o embaixador André Corrêa do Lago, Presidente da COP, fez um apelo aos ministros europeus: “Se não houver acordo, o Acordo de Paris morre aqui em Belém do Pará”. Na reunião interna dos 27, fui clara com os meus colegas: a nossa ambição não pode servir de desculpa para permitir que interesses negativos bloqueiem o processo. A decisão era entre avançar ou perder tudo.
E avançámos. Portugal desempenhou um papel discreto, mas firme, nas negociações. Trabalhámos para manter viva a meta de 1,5°C e garantir instrumentos concretos para a implementação do Acordo de Paris. Este contexto desafiador exigiu persistência e coragem para abordar questões incómodas. A União Europeia enfrentou momentos de pressão interna, mas conseguimos manter a unidade do bloco. Tive um papel importante na área da tecnologia, como negociadora dos 27 no Technology Implementation Programme, assegurando que o acordo final representasse um avanço significativo.
Além disso, colaborei com outros países para promover a adaptação e o financiamento climático. A COP30 evidenciou que não basta definir metas; é crucial criar mecanismos que permitam aos países mais vulneráveis agir. O financiamento para perdas e danos e o aumento do Fundo de Adaptação até 2035 são passos que terão um impacto real na vida de milhões.
A participação de Portugal foi abrangente, não se limitando às negociações. Estivemos presentes politicamente, tecnicamente e culturalmente. Na Cúpula de Líderes, o Primeiro-Ministro, dr. Luís Montenegro, anunciou uma contribuição para o Fundo Floresta Tropical, reforçando a nossa ligação à Amazónia. O pavilhão português, projetado por Eduardo Souto de Moura, tornou-se um espaço de encontro para ciência, cultura e diplomacia, e também um local de solidariedade durante o incêndio.
Após uma semana intensa na COP30, não posso dizer que saímos satisfeitos. Nenhum negociador responsável pode estar satisfeito enquanto o mundo não estiver na trajetória necessária. Contudo, deixei Belém do Pará convicta de que Portugal cumpriu o seu papel com determinação. Mantivemos o Acordo de Paris vivo, evitámos o colapso do processo multilateral e garantimos avanços em mitigação, adaptação e tecnologia. Portugal destacou-se como um país de soluções e cooperação na luta contra as alterações climáticas.
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COP30 Nota: análise relacionada com COP30.
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Fonte: Sapo





