Críticas à “esquizofrenia” das políticas de migração em Portugal

Académicos que estudam as migrações em Portugal expressaram a sua preocupação com a forma como o governo tem abordado as políticas de migração, considerando-as desprovidas de uma base científica sólida. Durante um encontro realizado esta quarta-feira, Rui Pena Pires, do Observatório da Emigração, destacou a “esquizofrenia” nas políticas públicas, que promovem a preservação das tradições dos emigrantes portugueses, ao mesmo tempo que exigem uma “integração plena” dos imigrantes.

Pena Pires sublinhou que o Estado português celebra a emigração, com um dia dedicado às comunidades portuguesas, mas, em contrapartida, impõe exigências rigorosas aos imigrantes. Esta dualidade é vista como uma contradição que não ajuda a criar um ambiente de inclusão. Liliana Azevedo, uma das coordenadoras do evento, reforçou que as migrações são tratadas de forma desigual, dependendo da origem dos indivíduos.

A narrativa predominante sobre os emigrantes portugueses no exterior é muitas vezes positiva, apresentando-os como embaixadores do país. No entanto, essa visão não reflete a realidade de todos, uma vez que muitos enfrentam desafios significativos, como a habitação e a integração nos países de acolhimento. A investigadora criticou a hipocrisia de apontar o dedo aos imigrantes, sem considerar as dificuldades que os portugueses também enfrentam fora de Portugal.

A falta de comunicação entre a academia e os responsáveis políticos foi outro ponto levantado. Segundo Azevedo, não existe um canal de diálogo eficaz entre os académicos e os decisores, o que resulta em políticas migratórias que se baseiam apenas em dados económicos, sem a contribuição de especialistas em ciências sociais. Esta ausência de diálogo é vista como um obstáculo à criação de soluções fundamentadas em evidências científicas.

Cláudia Pereira, investigadora do Iscte e ex-secretária de Estado das Migrações, reconheceu que a ligação entre academia e política nem sempre é fácil, mas salientou que a ciência e os dados são essenciais para a formulação de melhores políticas. Apesar de algumas medidas terem sido baseadas em estudos, a maioria dos políticos tende a ignorar as recomendações dos académicos.

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Atualmente, Portugal enfrenta um clima político desafiador, com um aumento do discurso de ódio em relação aos imigrantes. Pereira destacou que, comparativamente, Portugal tem menos imigrantes do que muitos outros países europeus, e que as políticas restritivas não são adequadas num contexto de crescimento económico. A migração é, em grande parte, regulada pela oferta de trabalho, e a falta de oportunidades leva as pessoas a procurar melhores condições em outros lugares.

A discussão sobre imigração tornou-se mais mediática, e as mudanças legislativas têm atraído mais pessoas para o país. No entanto, essa situação também tem sido explorada politicamente, com alguns partidos a utilizarem os imigrantes como bodes expiatórios para problemas sociais. Os académicos alertam para os perigos de normalizar a xenofobia, que pode levar a divisões e conflitos sociais.

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Fonte: ECO

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