A Câmara de Comércio da União Europeia na China emitiu um alerta sobre os riscos associados à sobrecapacidade industrial no país, instando Pequim a reequilibrar o seu modelo de desenvolvimento no próximo 15º Plano Quinquenal. O presidente da organização, Jens Eskelund, destacou que a questão da sobrecapacidade é amplamente reconhecida, incluindo por empresas chinesas, e classificou-a como um “problema real”.
Durante a apresentação do Documento de Posição 2025/2026, que compila 1.141 recomendações de 1.600 empresas europeias com operações na China, o relatório evidenciou que setores como veículos elétricos, painéis solares e baterias estão a produzir em excesso, muito além do que os mercados interno e internacional conseguem absorver. Este fenómeno está a agravar o excesso de inventário, a erosão das margens de lucro e a pressão sobre as exportações.
Para combater a sobrecapacidade, a Câmara sugeriu que se reforçasse a rede de segurança social, que tem sido encarecida pelos elevados custos de habitação, educação e saúde. Este reforço poderia estimular o consumo das famílias, que continua a crescer a um ritmo inferior à produção.
Além disso, o organismo defendeu uma alocação de capital mais eficiente, apontando que, entre 2016 e 2023, as empresas estatais receberam mais subsídios do que as privadas. Esta situação tem travado a produtividade e colocado as pequenas e médias empresas em desvantagem.
No que diz respeito ao comércio, Eskelund criticou a relação entre a China e a União Europeia, descrevendo-a como “uma rua de sentido único”. No primeiro semestre deste ano, as exportações líquidas representaram quase um terço do crescimento da economia chinesa. Enquanto Bruxelas absorveu 14,5% das vendas externas da China, o país asiático respondeu por apenas 8% das exportações europeias.
O relatório também reconheceu os avanços na transição energética, com 55% da eletricidade da China a provenir de fontes renováveis. Contudo, alertou para o acesso limitado a energia limpa e a crescente exclusão de empresas estrangeiras em setores digitais, que continuam a ser obstáculos significativos.
“Talvez tenha chegado a hora de o pêndulo passar de um apoio excessivo à oferta para um modelo que fomente um crescimento mais sustentável”, concluiu Eskelund. Esta afirmação sublinha a necessidade urgente de abordar a sobrecapacidade e de promover um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável na economia chinesa.
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Fonte: Sapo