O conceito de trabalho extra tem vindo a evoluir ao longo das últimas décadas. Antigamente, era visto principalmente como uma solução temporária para problemas financeiros. No entanto, essa visão está a mudar rapidamente. Cada vez mais profissionais estão a optar por manter projetos paralelos ao seu emprego principal, permitindo-lhes desenvolver novas competências, explorar interesses pessoais e afirmar a sua identidade profissional de forma mais autónoma. Este fenómeno não é apenas uma tendência geracional, mas uma mudança estrutural que está a redefinir a forma como encaramos as carreiras.
Num mundo em constante transformação, a adaptabilidade e a aprendizagem contínua tornaram-se essenciais em quase todos os setores. Os projetos paralelos, que podem incluir colaborações freelance, pequenos negócios ou blogs técnicos, são agora valorizados por muitos recrutadores como indicadores de iniciativa, curiosidade e proatividade. O trabalho extra, portanto, deixou de ser visto como uma distração e passou a ser considerado uma mais-valia.
Esta mudança de mentalidade abrange também profissionais mais experientes e aqueles que estão a reorientar as suas carreiras. O trabalho extra é cada vez mais reconhecido como uma forma de equilibrar ambição, propósito e liberdade. As empresas começam a valorizar colaboradores que têm projetos pessoais, uma vez que isso pode refletir dinamismo, compromisso com a aprendizagem e resiliência. Desde que exista um equilíbrio saudável, o trabalho extra pode beneficiar tanto o profissional como a organização.
Além disso, o trabalho extra permite que os profissionais construam um percurso significativo. Oferece a oportunidade de experimentar e testar novas competências fora do âmbito da função atual, promovendo um ambiente de aprendizagem e realização pessoal. Os projetos paralelos possibilitam explorar áreas criativas, tecnológicas ou sociais, sem as limitações das estruturas tradicionais. Isso permite aos profissionais desenvolverem a sua literacia digital e cultivarem uma voz própria, muitas vezes de forma complementar ao seu emprego principal.
No entanto, esta tendência não está isenta de desafios. A gestão do tempo e a saúde mental são preocupações importantes, especialmente quando as fronteiras entre a vida pessoal e profissional se tornam difusas. Contudo, o valor transformador do trabalho extra não deve ser subestimado. Muitas vezes, é precisamente esse espaço paralelo que fornece a motivação e a energia necessárias para enfrentar o trabalho principal.
Estamos a assistir a uma mudança estrutural na forma como as pessoas gerem as suas carreiras. O desenvolvimento profissional já não é linear, mas sim híbrido, onde as oportunidades surgem tanto dentro como fora da estrutura formal da empresa. Com o advento de plataformas digitais e modelos de trabalho flexíveis, o trabalho extra torna-se não só uma possibilidade, mas uma estratégia desejável.
Hoje, a carreira não é definida apenas por promoções ou anos de experiência, mas pelas histórias e experiências acumuladas ao longo do percurso. O portefólio de um profissional vai além do CV tradicional, abrangendo o que cria, ensina e partilha. É neste ecossistema paralelo que muitos encontram espaço para crescer de forma mais autêntica.
Assim, a questão já não é “trabalho extra: sim ou não?”, mas sim “como integrar o trabalho extra de forma estratégica e saudável na tua carreira?”. Aqueles que conseguirem responder a esta pergunta estarão em vantagem num mercado em constante evolução. O futuro profissional não se constrói apenas com o cargo que ocupamos, mas sim em cada projeto, risco e desafio que aceitamos fora do guião. É nesse espaço de crescimento que muitos descobrem o seu verdadeiro potencial.
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Fonte: ECO