A instabilidade política em Portugal surge como o maior obstáculo à atratividade do país para o investimento direto estrangeiro (IDE). De acordo com um estudo recente da consultora EY, 30% dos investidores inquiridos identificaram este fator como a principal preocupação, um valor que supera em nove pontos a média europeia.
Enquanto a maioria dos investidores fora de Portugal aponta as “tensões geopolíticas e conflitos” como o maior risco (35%), os investidores nacionais estão mais preocupados com questões internas. As transições governativas, investigações judiciais e a incerteza regulatória são os principais fatores que alimentam essa inquietação. Para mitigar esses receios, os especialistas recomendam uma maior previsibilidade política e estabilidade nas normas regulatórias.
Em 2024, o número de projetos de IDE aumentou, mas o investimento médio por projeto diminuiu em 15%. Hermano Rodrigues, diretor da EY Parthenon, salienta que os investidores valorizam a previsibilidade e eficiência, considerando essenciais a simplificação de processos, a transparência regulatória e a consistência nas políticas públicas. “A digitalização da administração e a redução da burocracia são passos cruciais para reforçar a confiança e atrair projetos de maior valor”, acrescenta.
Apesar das preocupações, Portugal mantém vantagens competitivas em relação à média europeia. Quarenta e quatro por cento dos investidores destacam a qualidade das infraestruturas — incluindo telecomunicações, transportes e energia renovável — como a maior vantagem do país, comparado a 29% na União Europeia. A força de trabalho, com 33% dos investidores a considerá-la um ponto forte, também se destaca, especialmente pelas competências digitais e linguísticas. A qualidade de vida, segurança e diversidade cultural são outros fatores que atraem, com 31% dos investidores a valorizá-los, 10 pontos percentuais acima da média da UE.
Jacinto Antunes, da Air Liquide, afirma que “Portugal continua a ser um destino atrativo para investimento estrangeiro devido à sua localização estratégica, talento qualificado, apoio à inovação e compromisso com a sustentabilidade”. A origem dos fluxos de investimento também é um indicador positivo, com 34% dos projetos de 2024 a virem de fora da Europa, especialmente dos Estados Unidos e do Brasil. Lisboa continua a ser o principal foco, com 90 projetos, mas regiões como o Centro e o Alentejo mostram sinais de diversificação.
No entanto, a fiscalidade é um ponto crítico. Mais de um terço (36%) dos investidores acreditam que Portugal deve concentrar esforços na redução e simplificação da tributação, em contraste com apenas 20% na UE. Nos últimos três anos, 36% dos investidores consideraram que a fiscalidade nacional diminuiu a atratividade do país, enquanto apenas 29% notaram melhorias.
Hermano Rodrigues sublinha que “a redução e simplificação da fiscalidade em Portugal é fundamental para potenciar a atratividade do país”, embora existam outros fatores igualmente importantes. Além disso, o acesso a capital é visto como uma fragilidade, com 34% dos investidores a exigir melhores condições de financiamento empresarial, em comparação com 31% na Europa. Gonçalo Regalado, do Banco Português de Fomento, alerta que “Portugal precisa de mobilizar investimento em setores estratégicos e garantir condições financeiras estáveis, sob pena de perder terreno na corrida europeia”.
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Fonte: Sapo