Na última edição da Web Summit, Ricardo Araújo Pereira fez uma sátira incisiva às intervenções do Presidente da Câmara de Lisboa e de outros membros do Governo. Os discursos, com diferentes níveis de fluência em inglês, provocaram um sentimento de desconforto e vergonha alheia. A falta de autenticidade e a utilização de metáforas inadequadas foram evidentes, especialmente numa feira que se tornou um símbolo de vaidade.
Portugal ainda está longe de se destacar no ranking de unicórnios por milhão de habitantes, especialmente quando comparado a países de dimensões semelhantes. É claro que a Web Summit não será a solução mágica para transformar Portugal numa potência de startups, a não ser que estas sejam de porcelana. Das oito empresas que atualmente possuem o estatuto de unicórnio, apenas a Sword Health foi criada após a primeira edição do evento.
Apesar de não haver muitos unicórnios, surgiram algumas startups promissoras, como a Automaise, a Endiprev e a Alice IA. É fundamental incentivar o empreendedorismo em Portugal, mas isso não pode substituir a necessidade de investimento em educação, ciência e inovação. A criação de instituições de suporte e uma mudança de mentalidade são cruciais. Não se alcançam resultados sustentáveis com discursos vazios e promessas grandiosas.
Este episódio recordou-me uma experiência constrangedora que vivi. A Embaixada de Portugal em Londres, por vezes, convida-me para eventos. Após o Brexit, fui convidado para uma iniciativa que reunia mais de 200 pessoas, incluindo investidores e dignitários britânicos, com o intuito de promover Portugal como destino de investimento. No entanto, a apresentação foi um desastre. O inglês dos oradores era fraco e um deles confundiu “we commit” com “we compromise”, provocando risadas na plateia.
Os oradores, em vez de focarem nas vantagens económicas e regulatórias, falavam do clima e da gastronomia, como se fossem argumentos de peso. A maioria começou as suas apresentações com referências ao Tratado de Windsor, o que levou um dos oradores a brincar que tinha algo a dizer sobre o tratado, mas preferia passar à frente. A parolice portuguesa parece ignorar a célebre frase de Thomas Edison: “Genius is 1% inspiration and 99% perspiration”.
Para que Portugal possa realmente brilhar no cenário internacional, é necessário um foco no trabalho sério e persistente. A Web Summit pode ser uma plataforma, mas sem um investimento sólido em educação e inovação, os resultados continuarão a ser limitados.
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Web Summit Web Summit Nota: análise relacionada com Web Summit.
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Fonte: Sapo





