Um novo estudo global do Santander, apresentado recentemente em Londres, revela um contraste preocupante entre a confiança dos portugueses em relação à sua literacia financeira e a realidade dos seus conhecimentos práticos. De acordo com a pesquisa, 63% dos inquiridos afirmam ter um domínio sólido sobre temas financeiros, mas apenas 36% conseguem responder corretamente a uma questão simples sobre inflação. Este fosso entre a perceção e a realidade torna-se ainda mais relevante num contexto de crescente pressão sobre o custo de vida.
O relatório intitulado “O Valor de Aprender – Perspetivas Globais sobre Educação Financeira”, elaborado pela Ipsos em colaboração com o Santander, entrevistou quase 20 mil pessoas em dez países. Os dados mostram que os portugueses têm uma perceção de conhecimento financeiro superior à média global, que se fixa em 61%. Contudo, quando confrontados com perguntas concretas, a realidade é bem diferente. Em Portugal, pouco mais de um terço dos cerca de 2 mil entrevistados acertaram na questão sobre inflação, um resultado que, apesar de tudo, supera a média global de 32%.
Ana Botín, presidente do Santander, sublinha a importância da educação financeira, afirmando que “não é um tema técnico nem secundário, mas uma ferramenta essencial para o progresso”. O conhecimento financeiro é fundamental para que as pessoas possam tomar decisões informadas, antecipar riscos e aproveitar oportunidades. Contudo, os resultados deste inquérito mostram que ainda há muito a fazer neste domínio.
Os hábitos de poupança dos portugueses também merecem atenção. Apenas 35% afirmam poupar parte do rendimento mensalmente, enquanto 40% admitem não o fazer regularmente. Esta realidade contrasta fortemente com países como os EUA e o Reino Unido, onde a poupança regular é uma prática comum entre 72% e 64% da população, respetivamente.
Além disso, 92% dos portugueses acreditam que a educação financeira deveria ser integrada no currículo escolar, mas apenas 10% recordam ter recebido formação nesta área durante a sua educação. As áreas que os portugueses mais gostariam de aprender incluem poupança (67%), investimento (65%), impostos (57%), orçamento (46%) e crédito à habitação (38%). Ana Botín defende que “governos, escolas, famílias, empresas e bancos devem colaborar para que o conhecimento chegue a todos, desde a infância até à idade adulta”.
Os dados do estudo também revelam que um em cada cinco inquiridos recorre às redes sociais para obter informação financeira, uma proporção que sobe para um em cada três entre os jovens de 16 a 24 anos. Apesar de os jovens portugueses mostrarem menor inclusão no sistema financeiro, com apenas 38% a possuírem conta bancária, o inquérito indica que 73% utilizam serviços bancários digitais semanalmente.
As ambições financeiras dos portugueses refletem uma preocupação com a estabilidade. A prioridade máxima para 39% dos inquiridos é alcançar uma estabilidade financeira que lhes permita viver sem preocupações. Contudo, a perceção económica é pessimista, com apenas 22% a verem a economia portuguesa de forma positiva.
A literacia financeira em Portugal continua a ser um desafio estrutural, onde a confiança nas capacidades financeiras contrasta com a fragilidade do conhecimento prático. Contudo, há uma vontade crescente de aprender e uma geração mais próxima do ecossistema digital da banca e do investimento. O próximo passo é transformar essa curiosidade em conhecimento útil, essencial para uma economia mais sólida.
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Fonte: ECO





