Nos últimos tempos, diversas vozes, incluindo académicos e professores universitários, têm questionado a importância da educação superior em Portugal. Esta discussão é surpreendente, especialmente num país que ainda enfrenta desafios significativos na formação da sua população.
É curioso notar que muitos dos que agora afirmam que “já não vale a pena estudar” são precisamente aqueles que beneficiaram de uma educação de qualidade e que, atualmente, desfrutam de carreiras de sucesso e salários elevados. É semelhante a ouvir um multimilionário dizer que “o dinheiro não importa”. A verdade é que tanto o dinheiro quanto a educação são fundamentais, não apenas pelo conforto que proporcionam, mas também pela segurança em momentos críticos. A educação continua a ser uma ferramenta poderosa para a mobilidade social.
Como podemos explicar a tantos pais que investiram recursos e tempo para garantir que os seus filhos acedessem ao ensino superior que, afinal, “não vale a pena estudar”? É difícil justificar tal afirmação a famílias que veem na educação uma oportunidade real de ascensão social. E, mais importante, quantos dos que criticam o valor da educação recomendam aos seus filhos que “vão trabalhar”?
O verdadeiro problema não reside no valor da educação, mas na forma como abordamos a questão. Em vez de questionar se a educação tem valor, devemos perguntar como podemos aumentar o seu valor. É verdade que muitos métodos pedagógicos ainda estão ancorados em modelos ultrapassados. A inovação é necessária e urgente. No entanto, confundir a necessidade de reformar práticas educativas com a ideia de que estudar perdeu relevância é uma simplificação perigosa.
Outro ponto a considerar é a crescente ideia de que Portugal deve posicionar-se como um “exportador de ensino”. Esta é uma ambição válida, mas deve ser contextualizada. A maioria das universidades em Portugal são públicas e dependem do financiamento estatal. A sua missão primordial deve ser contribuir para o desenvolvimento económico, social e cultural do país, e não apenas focar na exportação de conhecimento.
Adicionalmente, a prática de lecionar programas exclusivamente em inglês levanta preocupações. Embora a internacionalização seja crucial, a exclusividade da língua inglesa pode criar barreiras sociais. Muitos jovens provenientes da escola pública, ao atingirem os 18 anos, não dominam a língua inglesa o suficiente para acompanhar um curso superior técnico e académico em outra língua. Em vez de abrir portas, esta abordagem pode dificultar o acesso à educação para aqueles que já enfrentam desafios.
Portugal não pode permitir-se desvalorizar a educação. É imperativo formar mais e melhor. Precisamos de um sistema de ensino superior que inove, se adapte e sirva tanto os indivíduos como a sociedade em geral. Se aspiramos a um país mais justo e competitivo, não devemos desvalorizar a educação; pelo contrário, devemos reinventá-la continuamente.
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Fonte: Sapo