Os incêndios florestais em Portugal têm sido um tema recorrente, especialmente com a recente proposta de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) e uma Comissão Técnica Independente (CTI) para investigar as suas causas. Embora não seja especialista na área, a análise de dados concretos pode ajudar a compreender a gravidade da situação e a necessidade de uma discussão mais aprofundada.
De acordo com a Comissão Europeia, até agosto de 2023, Portugal registou 262,7 mil hectares de área ardida, o segundo maior valor na Europa, apenas atrás de Espanha, que contabilizou 380,3 mil hectares. Esta área ardida representa 2,86% do território nacional, a maior percentagem da União Europeia, muito acima da média de 0,24% dos outros países. Este cenário levanta questões sobre a gestão florestal e a eficácia das políticas de prevenção.
A média de área ardida em Portugal entre 2006 e 2024 é de 96,3 mil hectares, o que equivale a 1,05% do território. Comparativamente, Espanha regista 79,6 mil hectares, mas apenas 0,6% do seu território. Estes dados evidenciam que, em anos normais, Portugal é o país com maior área ardida, o que aponta para problemas estruturais que precisam de ser abordados.
Até agosto de 2023, a área ardida em Portugal foi 2,7 vezes superior à média anual, um valor ligeiramente inferior ao da União Europeia, que é de 2,8. No entanto, a situação é ainda mais alarmante em países como a Eslováquia, onde a área ardida foi 13,3 vezes a média anual. Este aumento é, em parte, atribuído a condições climáticas extremas, como ondas de calor provenientes de África, que afetaram vários países europeus.
Apesar do elevado número de hectares ardidos, Portugal apresenta um número de incêndios abaixo da média anual, com 163 ocorrências até agosto, em comparação com uma média de 204. Este dado sugere que, apesar da área ardida ser significativa, a gestão do número de incêndios pode estar a ser mais eficaz em comparação com outros países da UE.
A análise da área arborizada em Portugal revela que, embora o país tenha uma grande proporção de vegetação, a sua morfologia favorece a propagação de incêndios. Com 59,8% do território coberto por áreas arborizadas, Portugal tem uma das maiores taxas na Europa, mas a composição destas áreas, com uma elevada presença de espécies como o eucalipto e o pinheiro, pode contribuir para a rápida propagação do fogo.
Além disso, a despesa pública dedicada à prevenção e combate a incêndios em Portugal é uma das mais baixas da União Europeia, com apenas 0,35% do orçamento. Este dado, aliado ao elevado número de bombeiros, levanta questões sobre a alocação de recursos e a eficácia das políticas implementadas.
Em suma, a análise dos incêndios florestais em Portugal revela uma realidade complexa, onde a combinação de fatores climáticos, a gestão florestal e a alocação de recursos desempenham papéis cruciais. A discussão sobre as causas e soluções para este problema deve ser uma prioridade, não apenas para proteger o meio ambiente, mas também para salvaguardar as vidas e bens dos cidadãos. Leia também: “Impactos das políticas florestais na prevenção de incêndios”.
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Fonte: ECO