A cidade de Westport, situada na costa do condado de Mayo, na Irlanda, é reconhecida como a capital do Botox, abrigando a fábrica da AbbVie, que emprega cerca de 1.800 pessoas numa comunidade de apenas 7.000 habitantes. Recentemente, a indústria de Botox enfrentou uma nova ameaça com a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 15% sobre todas as exportações farmacêuticas da União Europeia, incluindo o Botox.
Os frascos de Botox produzidos em Westport são enviados para cerca de 70 países, com os Estados Unidos a representar 70% do volume de negócios. O Botox, além de ser amplamente utilizado em tratamentos estéticos, tem também aplicações terapêuticas, como o tratamento de espasticidade muscular, enxaquecas e problemas oculares. As receitas anuais da AbbVie com o Botox são impressionantes, com a versão terapêutica a gerar cerca de três mil milhões de euros e o Botox cosmético a contribuir com aproximadamente 2,5 mil milhões de euros em vendas no último ano.
A comunidade de Westport está a sentir a pressão das incertezas económicas, com muitos residentes preocupados com a segurança dos seus empregos. Geraldine Horkan, CEO da Câmara de Comércio de Westport, descreveu a situação como tensa, afirmando que “as pessoas estão a conter a respiração. É como um avião em espera.” A dependência da cidade da fábrica da AbbVie torna qualquer alteração nas operações potencialmente devastadora.
Peter Flynn, conselheiro local e ex-funcionário da Allergan, criticou a abordagem de Trump, considerando absurda a ideia de transferir rapidamente a produção para os EUA. Ele explicou que mover operações de produção enfrenta desafios logísticos, custos elevados e uma falta de trabalhadores qualificados nos Estados Unidos. Apesar das ameaças, a AbbVie não anunciou planos para mudar a sua produção e, numa recente chamada de resultados, o presidente da empresa, Robert A. Michael, afirmou que estão a manter “discussões construtivas” com a administração sobre as tarifas.
A pressão sobre a indústria de Botox e, de forma mais ampla, sobre a indústria farmacêutica irlandesa não é uma novidade. O Departamento de Comércio dos EUA está a investigar o setor com base na Seção 232, que permite restrições de importação consideradas uma ameaça à segurança nacional. O presidente Trump expressou preocupações sobre a dependência dos EUA em relação à produção farmacêutica na Irlanda e em outros países, afirmando que “não fazemos mais os nossos próprios medicamentos”.
Em fevereiro, 91% das exportações irlandesas para os EUA foram produtos químicos e farmacêuticos, totalizando quase 20 mil milhões de euros. Contudo, o futuro das exportações irlandesas permanece incerto, especialmente com as novas tarifas em discussão. Analistas alertam que uma tarifa de 15% poderia aumentar os preços dos medicamentos nos EUA entre 7% e 10%, resultando em custos adicionais significativos para os consumidores. Medicamentos não cobertos por seguros, como o Botox cosmético, poderiam tornar-se ainda mais caros, afetando a acessibilidade para muitos.
Enquanto isso, as indústrias farmacêuticas estão a aumentar os investimentos nos EUA em resposta às pressões. Empresas como Johnson & Johnson e Eli Lilly anunciaram grandes planos de investimento, colocando pressão adicional sobre a competitividade da Irlanda no setor. Os líderes da indústria farmacêutica alertaram que a Europa pode perder até 100 mil milhões de euros em investimento e pesquisa nos próximos cinco anos devido às tarifas e propostas de reforma da propriedade intelectual na UE. A cidade de Westport, que se desenvolveu em torno da produção de Botox, tornou-se um local vibrante, com festivais e comércio, mas todo este ecossistema está agora ameaçado.
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Fonte: Sapo
