A recente tragédia do Elevador da Glória, que resultou em 16 mortes e várias pessoas feridas, chocou Lisboa e o país. Este acidente, causado por uma avaria que envolveu a rutura de um cabo de tração, levanta sérias questões sobre a segurança e a manutenção das infraestruturas públicas. No entanto, a exigência de demissões imediatas, especialmente do presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, parece ser uma resposta populista e precipitada.
As críticas dirigidas a Carlos Moedas e à sua equipa carecem de fundamento, uma vez que a responsabilidade por um acidente desta magnitude recai, em grande parte, sobre a gestão operacional da Carris, a empresa responsável pelo transporte público na cidade. Moedas, enquanto líder político, deve focar-se na definição de políticas públicas e na supervisão estratégica, não na verificação técnica dos equipamentos. Importa lembrar que a Câmara de Lisboa é acionista da Carris, mas não a sua gestora.
A experiência de quem já ocupou cargos na Câmara de Lisboa, como eu, revela que momentos de crise exigem diálogo e colaboração entre todos os partidos. A política deve prevalecer sobre as campanhas eleitorais, especialmente em respeito às vítimas e às suas famílias. Neste contexto, é digno de nota o posicionamento da candidata do Partido Socialista à Câmara, Alexandra Leitão, que se absteve de alinhar com a pressão por demissões.
Os dados preliminares indicam que a causa do acidente poderá estar relacionada com um problema técnico que não era detectável nas inspeções de rotina. Se se confirmar que a falha era indetetável, demitir um líder político que não tinha conhecimento do problema seria um erro grave. Tal ato criaria um precedente perigoso, onde qualquer falha, mesmo que imprevisível, poderia levar à queda de um presidente eleito.
Outro ponto de discussão é a manutenção do Elevador da Glória. A ideia de que esta deveria ser feita internamente pela Carris ou por uma empresa privada já não é tão debatida, dada a complexidade técnica que envolve a manutenção de infraestruturas de mobilidade. As empresas que realizam este tipo de serviço devem cumprir requisitos rigorosos de segurança, o que torna a escolha de prestadores de serviços um tema sensível.
Carlos Moedas demonstrou uma postura de liderança responsável ao recusar demissões sumárias e exigir uma investigação rigorosa. Em vez de sucumbir à pressão, optou por focar na apuração das causas do acidente. A demissão de gestores competentes que estão a colaborar com a investigação apenas desviaria a atenção do que realmente importa: garantir que tragédias como esta não voltem a acontecer.
A responsabilidade política de Moedas é assegurar que a investigação seja abrangente e que as devidas consequências sejam aplicadas, sejam elas de natureza técnica, de gestão ou criminal. A sua atuação deve ser avaliada pela capacidade de liderar a auditoria e reforçar a segurança nas infraestruturas. A suspensão do Elevador de Santa Justa e de todos os funiculares é um passo importante para restaurar a confiança dos cidadãos.
É crucial que a sociedade não ceda à tentação de buscar soluções fáceis. O Elevador da Glória simboliza a necessidade urgente de investir na manutenção e modernização das infraestruturas públicas. Este é o momento de agir com reflexão, identificar falhas e exigir um plano de ação para o futuro. O desempenho do presidente da Câmara e da sua equipa deve ser julgado pela forma como gerem esta crise, não por uma tragédia que, até prova em contrário, estava fora do seu conhecimento e responsabilidade direta. Demissões, neste momento, não são a solução.
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Elevador da Glória Elevador da Glória Nota: análise relacionada com Elevador da Glória.
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Fonte: Sapo