O ministro da Habitação e das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, revelou recentemente um conjunto de mais de 30 medidas destinadas a enfrentar a crise da habitação em Portugal. Este plano, que representa um investimento superior a 10 mil milhões de euros ao longo de um ano e meio, visa trazer mudanças significativas ao mercado habitacional, que se encontrava estagnado.
A crise da habitação em Portugal não é um fenómeno recente. A recessão económica entre 2011 e 2014 teve um impacto devastador sobre o setor, levando à falência de bancos e construtoras e à degradação de serviços públicos essenciais. Apesar de, onze anos depois, o mercado ter recuperado alguma confiança, a verdade é que a construção de novas habitações nunca voltou aos níveis anteriores à crise. Entre 1990 e 2008, Portugal construía, em média, 80 mil novas casas por ano. Contudo, entre 2011 e 2021, esse número caiu drasticamente para cerca de 14 mil, com mínimos alarmantes de apenas sete a oito mil novas casas anuais entre 2014 e 2017.
A procura por habitação aumentou consideravelmente nos últimos anos, impulsionada pela chegada de mais de um milhão de imigrantes e pela popularidade de Lisboa entre expatriados. Em 2024, o número de novas casas para habitação familiar atingiu um máximo desde 2011, com 25.311 unidades, embora ainda se considere insuficiente para colmatar a necessidade existente. As universidades de Lisboa e do Porto, por exemplo, enfrentam dificuldades devido à escassez de alojamento, com preços exorbitantes a afastar estudantes.
A questão que se coloca é se o ministro Pinto Luz e o Governo conseguirão resolver, em um ano, os problemas acumulados ao longo de uma década. Embora a expectativa possa ser elevada, a realidade é que as mudanças exigem tempo e ajustes contínuos. Pinto Luz tem demonstrado uma vontade de agir, mas a sua abordagem poderia beneficiar de uma maior transparência no processo de decisão, o que ajudaria a fortalecer o seu apoio político.
A crise da habitação não é exclusiva de Portugal; muitas cidades ao redor do mundo enfrentam desafios semelhantes. Lisboa, em particular, destaca-se pela desproporção entre preço e qualidade das habitações. A solução poderá passar por um aumento da oferta, que, por sua vez, poderá equilibrar os preços. Uma proposta interessante seria a construção de bairros profissionais, que poderiam oferecer habitação a médicos e enfermeiros, por exemplo, ajudando a compensar os baixos salários que muitos destes profissionais enfrentam.
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Fonte: Sapo





