A recompra de ações, conhecida como buybacks, está a ganhar uma popularidade sem precedentes este ano, com previsões que apontam para recordes em Wall Street. No entanto, esta tendência não tem agradado a todos, especialmente à Casa Branca, que já manifestou a sua preocupação com o impacto que estas práticas podem ter na economia.
Os buybacks são uma estratégia utilizada pelas empresas para recomprarem as suas próprias ações, o que pode beneficiar os investidores que mantêm as suas ações por mais tempo. Esta prática não só reduz o número de ações disponíveis no mercado, aumentando os ganhos por ação, como também pode impulsionar o preço das ações. Contudo, o executivo de Joe Biden e outros membros do governo têm criticado a forma como algumas empresas estão a priorizar os buybacks em detrimento de investimentos em inovação e desenvolvimento.
Um exemplo claro desta crítica surgiu quando o ministro das Finanças, Scott Bessent, se referiu ao programa de recompra da Boeing, afirmando que a empresa “está a sofrer há vários anos”. A Casa Branca já havia expressado descontentamento em 2023, quando a Chevron foi criticada por pagar mais aos investidores do que por aumentar a oferta de combustível no mercado.
Os números são impressionantes: em 2024, os buybacks no S&P 500 devem atingir 942 mil milhões de dólares. Até agosto deste ano, o valor de um bilião de dólares em anúncios de recompra já foi alcançado, um marco que só foi atingido em outubro de 2024. As previsões apontam para que, até ao final do ano, os anúncios de buybacks possam chegar a 1,3 biliões de dólares. Howard Silverblatt, analista da S&P Dow Jones Indices, espera que a tendência continue a crescer, podendo atingir novos recordes em 2025.
No entanto, uma nova preocupação está a emergir: o aumento do investimento em Inteligência Artificial (IA) pode desviar fundos que, de outra forma, seriam utilizados para buybacks. O Goldman Sachs alertou que os gastos em capital em IA dispararam mais de 20% no S&P 500 no segundo trimestre. As grandes tecnológicas, conhecidas como as 7 Magníficas, estão a canalizar uma parte significativa dos seus recursos para infraestruturas de IA, o que pode limitar a capacidade de recompra de ações.
Os analistas do Goldman Sachs preveem que, embora as recompras do S&P 500 devam aumentar 12% em 2026, atingindo 1,2 biliões de dólares, a crescente aposta em IA poderá travar esta tendência. Jim Cramer, da CNBC, sublinha que os investidores tendem a recompensar as empresas que realizam buybacks agressivos, destacando que as ações com programas de recompra tendem a ter um desempenho superior, especialmente em tempos de desaceleração económica.
Entre as empresas que anunciaram programas de recompra significativos este ano, destacam-se a Apple, com 100 mil milhões de dólares, a Alphabet com 70 mil milhões e a Nvidia com 60 mil milhões. Outras empresas como JP Morgan Chase, Goldman Sachs e Wells Fargo também se juntaram à lista, com montantes que variam entre 40 e 50 mil milhões de dólares.
Em suma, a febre dos buybacks continua a ser um tema quente em Wall Street, com implicações significativas para investidores e para a economia. Leia também: O impacto da Inteligência Artificial nas empresas.
Leia também: Isaltino Morais: O impacto da sua marca nas autárquicas de Oeiras
Fonte: Sapo